1º Ano Ensino Médio - Noturno - De onde eu venho?
Caro estudante,
A história pessoal deve ser um componente importante do Projeto de Vida. Antes mesmo
pensar para onde queremos ir e o que queremos ser, é importante sabermos de onde viemos, o
que gostaríamos de superar ou criar para o futuro. A sua casa, seus pais, sua família e sua vida
cotidiana, por meio de uma rede de relações sociais e afetivas, integram o primeiro momento
de conhecimento que crianças e adolescentes têm sobre o mundo. Pois, é no processo de
relações diversificadas que você interioriza valores e constrói formas próprias de perceber e
estar no mundo, se constituindo enquanto sujeito.
A família, que é seu primeiro espaço de socialização, de formação, é o grupo social onde se
adquire repertório inicial de comportamento: hábitos, costumes e modo de lidar com os
objetos, com o ambiente físico e com os adultos. Logo, valorizar as suas raízes e o que de bom
você aprendeu, o ajuda a desenvolver a noção de onde pode chegar.
A próxima atividade tem o objetivo de refletir sobre a influência da herança familiar na
formação de sua identidade e de seu próprio futuro.
Atividade 1: Leitura da crônica “Pertencer” de Clarice Lispector
Um amigo meu, médico, assegurou-me que desde o berço a criança sente o ambiente, a criança
quer: nela o ser humano, no berço mesmo, já começou.
Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. Por motivos que
aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a
ninguém. Nasci de graça.
Se no berço experimentei esta fome humana, ela continua a me acompanhar pela vida afora,
como se fosse um destino.
A ponto de meu coração se contrair de inveja e desejo quando vejo uma freira: ela pertence a
Deus.
Exatamente porque é tão forte em mim a fome de me dar a algo ou a alguém, é que me tornei
bastante arisca: tenho medo de revelar de quanto preciso e de como sou pobre. Sou, sim. Muito
pobre. Só tenho um corpo e uma alma. E preciso de mais do que isso. Com o tempo, sobretudo
os últimos anos, perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda nova de
"solidão de não pertencer" começou a me invadir como heras num muro.
Se meu desejo mais antigo é o de pertencer, por que então nunca fiz parte de clubes ou de
associações? Porque não é isso que eu chamo de pertencer. O que eu queria, e não posso, é por
exemplo que tudo o que me viesse de bom de dentro de mim eu pudesse dar àquilo que eu
pertenço. Mesmo minhas alegrias, como são solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se
tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado em papel enfeitado de
presente nas mãos - e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em
situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, raramente
embrulho com papel de presente os meus sentimentos.
Pertencer não vem apenas de ser fraca e precisar unir-se a algo ou a alguém mais forte. Muitas
vezes a vontade intensa de pertencer vem em mim de minha própria força - eu quero pertencer
para que minha força não seja inútil e fortifique uma pessoa ou uma coisa. Quase consigo me
visualizar no berço, quase consigo reproduzir em mim a vaga e, no entanto, premente sensação
de precisar pertencer. Por motivos que nem minha mãe nem meu pai podiam controlar, eu nasci
e fiquei apenas: nascida.
No entanto fui preparada para ser dada à luz de um modo tão bonito. Minha mãe já estava
doente, e, por uma superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma
mulher de uma doença. Então fui deliberadamente criada: com amor e esperança. Só que não
curei minha mãe. E sinto até hoje essa carga de culpa: fizeram-me para uma missão
determinada e eu falhei. Como se contassem comigo nas trincheiras de uma guerra e eu tivesse
desertado. Sei que meus pais me perdoaram por eu ter nascido em vão e tê-los traído na grande
esperança.
Mas eu, eu não me perdoo. Quereria que simplesmente se tivesse feito um milagre: eu nascer e
curar minha mãe. Então, sim: eu teria pertencido a meu pai e a minha mãe. Eu nem podia
confiar a alguém essa espécie de solidão de não pertencer porque, como desertor, eu tinha o
segredo da fuga que por vergonha não podia ser conhecido.
A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu
perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com a sede de
quem está no deserto e bebe sôfrego o último gole de água de um cantil. E depois a sede volta e
é no deserto mesmo que caminho!
O texto “Pertencer” de Clarice Lispector é uma crônica publicada
originalmente no Jornal do Brasil, em 1968, e, posteriormente no livro “A
descoberta do mundo”.
Não esqueça de fazer todos os registros no seu portfólio.
Agora responda as perguntas que se seguem
a) Por que Clarice Lispector se sentia deserdada da vida?
b) Para Clarice Lispector, o que significa pertencer?
c) “Nasceu e ficou simplesmente nascida”, “Não recebeu a marca do pertencer”. Que marca é
essa a que Clarice se refere?
d) Assim como Clarice Lispector, que histórias você tem sobre a sua origem?
e) O que você sabe acerca das expectativas dos seus pais sobre você, antes mesmo do seu
nascimento?
Depois de sua reflexão é importante que você entenda sobre nascer com uma missão, um
legado ou uma função familiar pré-estabelecida e o que se pode fazer para superar esse legado
e traçar a própria história. Cada pessoa possui sua história de vida e que ela começa a ser
construída antes mesmo do nascimento. Para isso, a crônica de Clarice Lispector, mostra a
profundidade da trajetória da personagem, seus sentimentos e as transformações pelas quais
passou. Você precisa respeitar a própria história por aquilo que ela tem de diferente e que
através dela podem criar confiança no mundo e em si mesmo. Já para a vida futura, é
importante criar vínculos seguros e saudáveis com a própria história.
Sugestão: Retome a aula de Estudos Orientados que aborda hábitos e rotina.
Atividade 2: O significado do meu passado e a marca que quero deixar no mundo.
Continuando o caminho do autoconhecimento faça o registro sobre o seu passado, pois isso
evita que aprendizados se percam pelo caminho. Ler anotações antigas pode ser muito valioso
para que você entenda o seu contexto de vida.
Saber de onde você vem é tão necessário quanto saber para onde vai.
Assim, organize suas histórias de vida, redimensione o valor intrínseco de cada uma delas e das
pessoas que lhe fazem bem. A busca pelo significado de cada uma dessas coisas pode até ser
difícil de definir, mas o que importa é o diálogo que você estabelece consigo mesmo, isso será a
sua melhor tradução.
Agora você fará uma homenagem para as pessoas mais queridas, colocando nomes ou fotos na
árvore abaixo e depois escreva o que essas pessoas representam para você.
Parabéns por seu desempenho e dedicação!!!! Este momento foi muito importante você
entender o passado para conseguir se projetar melhor no futuro. O passado, o presente e o
futuro se relacionam de forma intrínseca, uma vez que, através da memória podemos aceder o
passado e estruturá-lo de acordo com a ideia que temos no presente e com isso, mudar o nosso
futuro.
PARA SABER MAIS:
Conheça
“O Farol”, a animação de Po Chou Chi vencedora de 27 prêmios internacionais e
presente em 50 festivais de cinema, que expressa sua visão sobre a passagem do tempo e os
laços entre pai e filho. Sem nenhuma palavra, o curta conta com o piano de Chien Yu Huang.
Comentários
Postar um comentário