1º Ano Ensino Médio - Noturno - Introdução ao Ensino de Sociologia

O que você acha de obedecer regras, de cumprir ordens, de seguir caminhos que já foram preestabelecidos para você? É provável que você e muitos de seus colegas digam que não gostam de obedecer regras, e alguns chegam mesmo a afirmar com uma pontinha de orgulho que só fazem aquilo que gostam ou que têm vontade… Pois saiba que não é bem assim que as coisas acontecem. Mesmo que você se considere um rebelde, você está muito mais dentro da ordem que imagina, principalmente se você é um aluno devidamente matriculado no Ensino Médio, e está lendo este texto na escola ou em sua casa. 

Por que estamos falando disso? Para dizer que vivemos numa sociedade totalmente institucionalizada, ou seja, vivemos “imersos” em instituições sociais, portanto somos continuamente levados a realizar coisas que não escolhemos, e na maioria das vezes as realizamos “naturalmente”, sem questionar de onde e de quem partiu aquela ideia ou aquela ordem. Todo o nosso pensamento e nossa ação foram apreendidos e continuam constantemente sendo construídos no decorrer de nossa vida. 

Muito do que fazemos foi pensado e estabelecido por pessoas que nem existem mais. Desde o momento de nosso nascimento até a nossa morte estamos sempre atendendo às várias expectativas dos vários grupos que participamos. Por isso, nosso objetivo com este estudo é colocá-lo em contato com algumas instituições sociais muito presentes e atuantes em nossa sociedade, mais especificamente três: a escola, a religião e a família. 

Colocar em contato quer dizer conhecer um pouco das origens históricas das instituições, ou como foram construídas pelas diversas sociedades ao longo do tempo; perceber as transformações que foram sofrendo e como se configuram hoje, conhecer as diversas possibilidades de leitura oferecidas pela Sociologia, e, principalmente, nos enxergarmos como parte integrante dessas instituições. Não como uma peça num tabuleiro de um jogo, mas como sujeitos atuantes e com capacidade de mudar as regras do jogo quando considerarmos necessário. Nossa intenção ao propor este tema de estudo vai muito além da simples informação de conteúdos da sociologia, avalizados pelos grandes nomes desta ciência. Pretendemos que você, com auxílio dos instrumentais teóricos da Sociologia, possa compreender a dinâmica da sociedade contemporânea, aprenda a questionar as “verdades” que lhe são colocadas, e possa inserir-se de forma crítica e criativa nas diversas instituições sociais que compõem o sistema social. 

Nascemos todos em algum lugar da sociedade: num bairro de periferia, num edifício no centro da cidade, numa favela, num condomínio fechado, e pertencemos quase sempre a algum tipo de família. É dentro da família que aprendemos os primeiros valores do grupo e da sociedade a que pertencemos. Os pais (ou aqueles que cumprem este papel), criam e provêm os filhos de condições para a subsistência e esperam desses respeito e obediência. A sociedade espera que os pais trabalhem e tenham uma vida honesta, às mães cabe o amor incondicional, capaz de fazê-las abrir mão da própria vida para ver a felicidade de seus filhos. Isso pode parecer um pouco exagerado, mas, às vezes, a caricatura de uma situação nos permite enxergá-la melhor. Bem, crescemos ouvindo que a família é um lugar “sagrado”, que devemos respeitar nossos pais, que tanto sacrifícios fizeram por nós. Crescemos ouvindo que é o bem mais importante de um homem, e quando finalmente crescemos, “desejamos” formar outra família, porque é isto que esperam de nós. Mas se não agirmos dessa forma esperada, se não nos transformarmos no pai trabalhador, na “mãe santa”, no filho respeitoso? Se escolhermos outro caminho e outros valores? Aí sofreremos o que a Sociologia chama de coerção social – significa que seremos coagidos e pressionados pelo grupo familiar e pelas pessoas próximas desse a retomar os valores preestabelecidos. 

É o grupo familiar que também vai nos indicar os caminhos escolares e profissionais. Para algumas famílias, percorrer toda a carreira escolar sem interrupção é algo indiscutível, e desviar-se deste caminho previsto pode ser traumático. Novamente não escolhemos, mas as escolhas já estão feitas. Quase sempre fazemos o que é esperado. Passemos agora para a escola. Essa instituição ensina-nos novos padrões de comportamento, ou reforça aqueles que já trazemos de nossa classe social e tenta nos fazer acreditar que somos todos iguais, porque podemos nos sentar igualmente nas carteiras escolares. 

Mas tão logo os alunos percebem que para haver igualdade é necessário mais do que um lugar na escola, começam as reações contrárias à ordem. São as chamadas questões disciplinares. A escola valoriza a ordem, a disciplina, o bom rendimento. Os adolescentes vêem neste momento de suas vidas a oportunidade de rebelar-se contra os padrões de comportamento estabelecidos, de agredir tudo que representa autoridade, de desprezar o que não atende a seus interesses imediatos... Há uma outra instituição social com a qual você provavelmente também convive. Caso tenha sido batizado ou iniciado em alguma religião em sua infância e tenha crescido seguindo os ensinamentos de sua igreja, você desenvolveu o que se chama de pensamento sagrado. Depois iremos analisar detalhadamente cada uma dessas instituições. Fonte: Sociologia Ensino Médio. Secretaria de Estado da Educação do Estado do Paraná.

O “menino selvagem” de Aveyron 

A 9 de Janeiro de 1800, uma criatura estranha surgiu dos bosques perto da aldeia de SaintSerin, no sul de França. Apesar do seu andar ereto, parecia mais um animal do que um ser humano, embora tenha sido de pronto identificado como um rapaz de onze ou doze anos. Expressava-se por guinchos, emitindo gritos agudos. Aparentemente, o rapaz não sabia o que era higiene pessoal e aliviava-se quando e onde era sua vontade. Foi entregue às autoridades locais e transportado para um orfanato das redondezas. No início, tentava fugir constantemente, sendo capturado com alguma dificuldade. Recusava-se a usar roupas, que rasgava mal o obrigavam a vestir. Nunca ninguém apareceu a reclamar a sua paternidade. 

A criança foi sujeita a um completo exame médico, que concluiu não existirem deficiências de maior gravidade. Quando lhe foi mostrado a sua imagem refletida num espelho, apesar de visualizar uma imagem, não se reconheceu nela. Certa vez, tentou agarrar uma batata que viu refletida no espelho (quando na realidade a batata estava a ser segura por trás da sua cabeça). Depois de várias tentativas, sem que tivesse virado a cabeça, apanhou a batata alcançando-a por trás do ombro. 

Mais tarde o rapaz seria levado para Paris e foram feitas tentativas sistemáticas de o transformar “de animal em humano”. O esforço só em parte foi um sucesso. Ensinaram-lhe a usar a casa-de-banho, passou a aceitar usar roupas e aprendeu a vestir-se. Continuava, contudo, com um grande desinteresse por brinquedos e jogos, e nunca foi capaz de dominar mais do que algumas poucas palavras. Pelo que podemos saber, com base na descrição detalhada do seu comportamento e reações, isto não acontecia por ele ser mentalmente desfavorecido. Parecia incapaz ou sem vontade de dominar o discurso humano. Poucos mais progressos fez e acabou por morrer em 1828, com cerca de quarenta anos de idade. 

Naturalmente, temos de ser cuidadosos na interpretação de casos deste gênero. É possível que se tenha dado o caso de se tratar de uma deficiência mental não diagnosticada. Por outro lado,é possível que as experiências a que esta criança foi sujeita lhe tenham infligido danos psicológicos impeditivos de dominar práticas que a maioria das crianças adquire em tenra idade. Há, no entanto, semelhanças suficientes entre este caso histórico e outros que foram registrados para que possamos sugerir o quão limitadas seriam as nossas faculdades na ausência de um longo período de socialização primária. 

Anthony Giddens, “Sociologia”, Fundação Calouste Gulbenkian 

Atividade 1- Segundo a experiência relatada no texto e os conteúdos estudados na disciplina de sociologia neste bimestre podemos afirmar que: 

a) A personalidade do indivíduo é uma herança genética transmitida de pais para filhos. 
b) Para um indivíduo obter os modos e costumes ele precisa ser influenciado por um grupo social. 
c) Os homens não se diferenciam dos animais pela cultura que transmite ao seus filhos. 
d) Que uma criança filha de casal chinês mesmo sendo nascido e criado no Brasil continuará se comportando como um chinês. 

Atividade 2- Por que a criança não desenvolveu as características que seriam de um indivíduo de sua idade? 

a) A cultura é algo que é transmitida via convivência social. 
b) Devido a provável falta de nutrientes que sua alimentação apresentava. 
c) Devido ao fato de ser necessário se comportar como um lobo para viver entre eles. 
d) Devido a alguma anomalia mental apresentada por esse indivíduo. 

Atividade 3- No terceiro parágrafo do texto o autor afirma que ; “...foram feitas tentativas sistemáticas de o transformar de animal em humano”. São características que distinguem os humanos dos animais, Exceto: 

a) O fato dos humanos transmitirem cultura para sua descendência. 
b) A capacidade de produzir e interpretar símbolos como a escrita. 
c) O fato destes viverem em sociedade. 
d) A capacidade de analisar seus atos, executar suas tarefas, planejar suas atividades e colocá-las em prática. 

Atividade 4- O autor no texto aponta as seguintes explicações para o fato do garoto não conseguir se socializar totalmente, exceto. 

a) Uma provável deficiência mental. 
b) Possíveis traumas que a eventualmente o garoto pode ter sofrido em sua vivência na selva. 
c) O fato de serem limitadas as nossas faculdades mentais longe do convívio social. 
d) Provável violência sofrida por esse garoto por parte dos humanos 

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