3º Ano Ensino Médio - Noturno - A Diversidade dos Saberes.

TEMA: DESCARTES DURAÇÃO: 

FIQUE POR DENTRO DOS CONCEITOS (pesquise…): 

RACIONALISMO – IDEALISMO – RES EXTENSA – MÉTODO CIENTÍFICO

“Descartes é considerado o ‘pai da filosofia moderna’, porque, ao tomar a consciência como ponto de partida, abriu caminho para a discussão sobre ciência e ética, sobretudo ao enfatizar a capacidade humana de construir o próprio conhecimento. 

O propósito inicial de Descartes foi encontrar um método tão seguro que o conduzisse à verdade indubitável. Procura-o no ideal matemático, isto é, em uma ciência que seja uma mathesis universalis (matemática universal), o que não significa aplicar a matemática no conhecimento do mundo, mas usar o tipo de conhecimento que é peculiar à matemática. Como sabemos, esse conhecimento é inteiramente dominado pela inteligência — e não pelos sentidos — e baseado na ordem e na medida, o que lhe permite estabelecer cadeias de razões, para deduzir uma coisa de outra. 

Para tanto, Descartes estabelece quatro regras: 

• da evidência: acolher apenas o que aparece ao espírito como ideia clara e distinta; 
• da análise: dividir cada dificuldade em parcelas menores para resolvê-las por partes; 
• da ordem: conduzir por ordem os pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer para só depois lançar-se aos mais compostos; 
• da enumeração: fazer revisões gerais para ter certeza de que nada foi omitido. 

Vejamos como essas regras são aplicadas, ao fundamentar sua filosofia. 

Descartes parte em busca de uma verdade primeira que não possa ser posta em dúvida. Começa duvidando de tudo: do testemunho dos sentidos, das afirmações do senso comum, dos argumentos da autoridade, das informações da consciência, das verdades deduzidas pelo raciocínio, da realidade do mundo exterior e da realidade de seu próprio corpo. 

Trata-se da dúvida metódica, porque é essa dúvida que o impele a indagar se não restaria algo que fosse inteiramente indubitável. Por isso Descartes não é um filósofo cético: ele busca uma verdade. 

Descartes só interrompe a cadeia de dúvidas diante do seu próprio ser que duvida: 

[...] enquanto eu queria assim pensar que tudo era falso, cumpria necessariamente que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E, notando que esta verdade eu penso, logo existo era tão firme e tão certa que todas as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de a abalar, julguei que podia aceitá-la, sem escrúpulo, como o primeiro princípio da filosofia que procurava. 

 (DESCARTES, R. Discurso do método. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 54)

Esse ‘eu’ é puro pensamento, uma res cogitans (um ser pensante). Portanto, é como se dissesse: “existo enquanto penso”. Com essa primeira intuição, Descartes julga estar diante de urna ideia clara e distinta, a partir da qual seria reconstruído todo o saber. 

Embora o conceito de ideias claras e distintas resolva alguns problemas com relação à verdade de parte do nosso conhecimento, não dá garantia alguma de que o objeto pensado corresponda a uma realidade fora do pensamento. Como sair do próprio pensamento e recuperar o mundo do qual tinha duvidado? Considerando as regras do método, Descartes deveria passar gradativamente de noções já encontradas para outras igualmente indubitáveis. 

Para ir além dessa primeira intuição do cogito, Descartes examina se haveria no espírito outras ideias igualmente claras e distintas. Distingue então três tipos de ideias: 

• as que ‘parecem ter nascido comigo’ (inatas); 
• as que vieram de fora (adventícias); 
• as que foram ‘feitas e inventadas por mim mesmo’ (factícias). 

Ora, o cogito é uma ideia que não deriva do particular — não é do tipo das que ‘vêm de fora’, formadas pela ação dos sentidos — nem tampouco é semelhante às que criamos pela imaginação. Ao contrário, já se encontram no espírito, como fundamento para a apreensão de outras verdades. Portanto, são ideias inatas, verdadeiras, não sujeitas a erro, pois vêm da razão. 

(ARANHA, M.L.A. & MARTINS, M.H.P., 2009, p. 169-170)

ATIVIDADES

1 — Por que não se pode dizer que Descartes é cético, apesar de sua dúvida ser a respeito de toda a realidade? 

2 — (UFMG) Leia este trecho: “Suporei, pois, que há não um verdadeiro Deus, que é a soberana fonte da verdade, mas certo gênio maligno, não menos ardiloso e enganador do que poderoso, que empregou toda a sua indústria em enganar-me. Pensarei que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os sons e todas as coisas exteriores que vemos são apenas ilusões e enganos de que ele se serve para surpreender minha credulidade. Considerar-me-ei a mim mesmo absolutamente desprovido de mãos, de olhos, de carne, de sangue, desprovido de quaisquer sentidos, mas dotado da falsa crença de ter todas essas coisas. Permanecerei obstinadamente apegado a esse pensamento; e se, por esse meio, não está em meu poder chegar ao conhecimento de qualquer verdade, ao menos está ao meu alcance suspender meu juízo. Eis por que cuidarei zelosamente de não receber em minha crença nenhuma falsidade, e prepararei tão bem meu espírito a todos os ardis desse grande enganador que, por poderoso e ardiloso que seja, nunca poderá impor-me algo.” 

(Descartes. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 88-89.)

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