1º Ano Ensino Médio - Noturno - Diversidades e desigualdades na sociedade contemporânea.
O QUE É CULTURA?
Você certamente já deve ter percebido que certas palavras são utilizadas com mais de um sentido.
É precisamente esse o caso do termo “cultura”. É comum, por exemplo, ouvirmos dizer que determinada
pessoa tem cultura porque fala vários idiomas ou porque conhece muitas obras de literatura. Saindo do
plano individual, também é frequente lermos que certa civilização produziu uma cultura muito complexa
do ponto de vista religioso. Além desses dois usos, eventualmente nos deparamos com pessoas que
costumam comparar a época atual com a do passado, dizendo, por exemplo, que as pessoas da década
de 1970 não apreciavam a cultura pop internacional tanto quanto as de hoje o fazem. Em todos esses
casos, estamos diante da mesma palavra, “cultura”. Mas os sentidos com que ela aparece em cada um dos
contextos são bastante diferentes, conforme notou o pensador Félix Guattari. uma das contribuições de
Guattari é a distinção dos três sentidos usuais de “cultura”: cultura-valor, cultura-alma coletiva e culturamercadoria.
Cultura como valor (Capital cultural): Ela expressa a ideia de que é possível ter ou não ter
determinada cultura. É o caso, por exemplo, dos brasileiros que dominam a língua francesa, latina ou
alemã, sendo, por isso, considerados cultos. O uso do termo “cultura” para denotar um valor permite,
portanto, determinar a distinção entre quem tem e quem não tem uma suposta cultura (por exemplo,
artística, musical, científica, filosófica e matemática, dentre outras). A noção de cultura como valor
permite, ainda, classificar certo indivíduo como pertencente ao meio culto ou inculto, dentre muitos
outros. Pessoas que não dominam as normas da língua culta para a escrita, por exemplo, tendem a ser
classificadas como incultas.
Cultura-alma coletiva: É o uso cotidiano da palavra “cultura”, o chamado “cultura-alma coletiva”,
é sinônimo de “civilização”. Nesse caso, estamos diante da noção de que todas as pessoas, grupos e
povos têm cultura e identidade cultural. A população do interior do estado de São Paulo, por exemplo,
tem como parte integrante de sua identidade cultural um sotaque bastante peculiar na pronúncia do
“r” em palavras como “porta”, “jantar” e “dormir”, dentre tantas outras. É nesse sentido, portanto, que
falamos de cultura negra, chinesa ou ocidental, sempre fazendo referência aos traços culturais que
possibilitam a identificação e a caracterização dos indivíduos que constituem esses povos.
Cultura-mercadoria: O uso do termo “cultura” como cultura-mercadoria corresponde, segundo
Guattari, à chamada “cultura de massa”. Nesse caso, não se trata de avaliar a qualidade da cultura que
determinada pessoa tem ou não, nem tampouco de delimitar os traços culturais de um povo (como os
habitantes do interior de São Paulo). A noção de cultura-mercadoria está ligada a bens, equipamentos
e conteúdos teóricos e ideológicos de produtos que estão à disposição das pessoas que querem e
podem comprá-los. São os casos, por exemplo, de serviço, filmes, livros, músicas, novelas, séries e
programas de reality shows consumidos por milhões de pessoas dentro e fora do Brasil. Ou seja, gente
com repertórios culturais muito distintos (primeiro sentido) e oriundos de culturais extremamente
diversificadas (segundo sentido) pode muito bem partilhar a mesma cultura-mercadoria quando assiste
ao Big Brother ou escuta Katy Perry.
Disponível em : https://doutorgori.wordpress.com/2012/08/15/a-charge-da-semana/ - acesso 15/06/2020
DIVERSIDADE CULTURAL E ETNOCENTRISMO
O etnocentrismo denota a maneira pela qual um grupo, identificado por sua particularidade cultural,
constrói uma imagem do universo que favorece a si mesmo. Compõe-se de uma valorização positiva do
próprio grupo, e um referência aos grupos exteriores marcada pela aplicação de normas do seu próprio
grupo, ignorando, portanto, a possibilidade de o outro ser diferente. Sendo baseado numa preferência
que não encontra uma validade racional, o etnocentrismo é encontrado, em diferentes graus, em
todas as culturas humanas. Mas não é só o fato de preferir a própria cultura que constitui o que se
convencionou chamar de etnocentrismo, e sim o preconceito acrítico em favor do próprio grupo e uma
visão distorcida e preconceituosa em relação aos demais. O etnocentrismo é um fenômeno sutil, que
se manifesta através de omissões, seleção
de acontecimentos importantes, enunciado
de um sistema de valores particular, etc.
Em sua expansão, a partir do século XV, as
sociedades européias se defrontaram com
outras sociedades e perceberam que estas
não eram feitas à sua imagem. A reação
imediata do Ocidente foi o etnocentrismo.
Em seu avanço, a cultura européia não só é
etnocêntrica, como também etnocidária.
O etnocídio é a destruição de modos de
vida e de pensamentos diferentes dos
compartilhados por aqueles que conduzem
à prática da destruição, que reconhecem a diferença como um mal que deve ser sanado mediante a
transformação do Outro em algo idêntico ao modelo imposto. Resulta disso, segundo Jaulin, que o
conjunto submetido a essa cultura é homogêneo, pois provém da extensão de si mesmo e da negação
do Outro. O outro é sempre negado pelas culturas européias, pois o universo no qual está integrado
passa a depender dessas culturas.
TELLES, Norma. A imagem do índio no livro didático: equivocada, enganadora. Em Aracy Lopes da Silva (organizadora),
A questão indígena na sala de aula, São Paulo, Brasiliense, 1987, p. 75-6.
CULTURA POPULAR E CULTURA ERUDITA
Muito provavelmente você sabe o que é cultura, mas é preciso ressaltar que cultura, muitas vezes é
confundida com aquisição de conhecimentos, com educação, com erudição. A cultura é informação, é a
reunião de conhecimentos aprendidos no decorrer de nossas vidas, é herança social.
Por ser uma herança social, o ser humano “recebe” a cultura dos seus antepassados, mas cada
pessoa, cada indivíduo é capaz de modificar a cultura herdada, pois a cultura é modificável, flexível, o
ser humano “recebe” a cultura e a remodela, portanto a cultura não é fixa.
E, falando em erudição, a chamada cultura erudita está associada às elites, os seus produtores
fazem parte de uma elite social, econômica, política e cultural e seu conhecimento é proveniente do
pensamento científico, dos livros, das pesquisas universitárias ou do estudo em geral (erudito significa
que tem instrução vasta e variada adquirida, sobretudo pela leitura). A arte erudita e de vanguarda é
produzida visando museus, críticos de arte, propostas revolucionárias ou grandes exposições, público
e divulgação. A Cultura Erudita é a produção acadêmica centrada no sistema educacional, sobretudo na
universidade, produzida por uma minoria de intelectuais.
Cultura é tudo aquilo que aprendemos e compartilhamos com nossos semelhantes. Ela é
relativa, não existe uma cultura boa, ou uma cultura ruim, superior ou inferior, como acreditavam
os alemães, inclusive criadores da compreensão que muitos de nós ainda temos de “Cultura” com
C maiúsculo, indicando superioridade, e neste sentido quem compreende a cultura desta forma arcaica
e equivocada tende a fazer afirmações do tipo: “ fulano é culto” “Fulano não tem cultura” ora, todos e
todas temos cultura!
Cultura pode por um lado referir-se à alta cultura, à cultura dominante, ou seja, a cultura erudita,
e por outro, a qualquer cultura. No primeiro caso, cultura surge em oposição à selvageria, à barbárie;
cultura é então a própria marca da civilização, como queriam os alemães ao idealizarem a idéia
da “Kultur” alemã indicando a superioridade da cultura alemã em detrimento das outras culturas,
como modelo de civilidade, de progresso. Ou ainda, a alta cultura surge como marca das camadas
dominantes da população de uma sociedade; se opõe à falta de domínio da língua escrita, ou à falta
de acesso à ciência, à arte e à religião daquelas camadas dominantes. No segundo caso, pode-se falar
de cultura a respeito de todos os povos, nações, grupos ou sociedades humanas.
Cultura está muito associada a estudo, educação, formação escolar, o que não é correto; por vezes
se fala de cultura para se referir unicamente às manifestações artísticas, como o teatro, a música, a
pintura, a escultura, cinema, logo ouvimos falar também de acesso à cultura. Outras vezes, ao se falar
na cultura da nossa época ela é quase que identificada com os meios de comunicação de massa, tais
como o rádio, a televisão. Ou então cultura diz respeito às festas e cerimônias tradicionais, às lendas e
crenças de um povo, ou a seu modo de se vestir, à sua comida, a seu idioma. A lista ainda pode aumentar
mais.
Contudo, devemos entender como cultura todas as maneiras de existência humana. Essa tensão
entre referir-se a uma cultura dominante ou a qualquer cultura, permanece, e explica-se em parte a
multiplicidade de significados do que seja cultura. Notem que é no segundo sentido que as ciências
sociais costumam falar de cultura, no sentido amplo, como fenômeno unicamente humano, que se
refere a capacidade que os seres humanos tem de dar significados às suas ações e ao mundo que os
rodeia.
Cabe aqui iniciarmos uma conversa sobre cultura popular, que aparece associada ao povo, às
classes excluídas socialmente, às classes dominadas. Ao contrário da cultura erudita, a cultura popular
não está ligada ao conhecimento científico, pelo contrário, ela diz respeito ao conhecimento vulgar ou
espontâneo, ao senso comum. Geralmente a cultura popular é identificada com folclore, conjunto das
lendas, contos e concepções transmitidas oralmente pela tradição. É produzida pelo homem do campo,
das cidades do interior ou pela população suburbana das grandes cidades.
A cultura popular é conservadora e inovadora ao mesmo tempo no sentido em que é ligada à tradição
(costumes, crenças, rituais) mas incorpora novos elementos culturais. Muitas vezes a incorporação de
elementos modernos pela cultura popular (como materiais como plástico, por exemplo) a transformação
de algumas festas tradicionais em espetáculos para turistas (como o carnaval) ou a comercialização de
produtos da arte popular são, na verdade, modos de preservar a cultura popular a qualquer custo e de seus
produtores terem um alcance maior do que o pequeno grupo de que fazem parte.
Todos os indivíduos, todos os seres humanos tem cultura, no entanto, cada cultura é diferente
da outra, mesmo povos ditos incivilizados tem cultura, pois a cultura não baseia-se somente
na linguagem escrita, e, como é herança social é transmitida de geração em geração. Cultura
compreende uma série de elementos, como costumes, crenças religiosas, vestimenta, língua,
objetos, rituais etc.
ATIVIDADES
1 — A cultura material nada mais é que a importância que determinados objetos possuem para
determinado povo e sua cultura. É também através da cultura material que se ajuda a criar uma
identidade comum. Já a cultura imaterial é uma manifestação de elementos representativos, de
hábitos, de práticas e costumes. A transmissão dessa cultura se dá muitas vezes pela tradição.
São exemplos de cultura Imaterial:
a) ( ) A religião, o sotaque e a roupa de um povo.
b) ( ) Comidas típicas, a roupa, arquitetura e a música.
c) ( ) Utensílios, a arquitetura, folclore e comidas típicas.
d) ( ) Festas, a religião, o folclore e o sotaque.
e) ( ) Sotaque, a roupa, arquitetura e a música.
2 — É uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os
outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições
do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a
diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade etc.
A definição corresponde a quais conceitos?
a) ( ) Relativismo cultural.
b) ( ) Etnocentrismo.
c) ( ) Heliocentrismo.
d) ( ) Diversidade cultural.
e) ( ) Preconceito.
3 — Não corresponde a uma atitude ou visão etnocêntrica:
a) ( ) Os índios brasileiros não tiveram a sua mão de obra aproveitada pelos portugueses por
que eram preguiçosos e não gostavam de trabalhar.
b) ( ) Os negros se tornaram escravos dado a sua condição física: mais fortes, resistentes,
destinados ao trabalho braçal.
c) ( ) As favelas são lugares carentes de cultura.
d) ( ) Toda sociedade possui seu valor e devem ser respeitadas em suas diversidades.
e) ( ) O Funk devido ao erotismo e ao estímulo ao consumo presentes nas letras de suas
músicas não pode ser considerado uma manifestação Cultural.
4 — O conceito “São diferenças culturais que existem entre os seres humanos. Há vários tipos,
tais como: a linguagem, danças, vestuário, religião e outras tradições como a organização da
sociedade” diz respeito a:
a) ( ) Ações etnocêntricas.
b) ( ) Diversidade Cultural.
c) ( ) Relatividade Moral.
d) ( ) Descritivismo Antropológico.
e) ( ) Diversidade Linguística.
5 — Dentre as frases a seguir, identifique aquela que expressa a principal função das propagandas
em uma sociedade de consumo.
a) ( ) Informar os consumidores das virtudes dos produtos.
b) ( ) Divulgar o produto para atingir demanda já existente.
c) ( ) Esconder os problemas dos produtos.
d) ( ) Criar a necessidade de consumo alavancando a demanda (vendas).
e) ( ) Promover pessoas importantes.
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