1º Ano Ensino Médio - Noturno - Diversidades e desigualdades na sociedade contemporânea.

POR QUE FALAR SOBRE RAÇA E ETNIA? O

 Brasil é formado por 204,5 milhões de habitantes, sendo que 45,22% se dizem brancos; 54,48% negros (45,06% pardos e 8,86% pretos); 0,47% amarelos 0,38% indígenas (IBGE/PNAD-2015). Estes dados nos mostram que o Brasil é um país multirracial, multicultural pluriétnico. Tanta diversidade deveria ser vista como algo positivo, só que, por causa da nossa história de discriminação e exclusão, as diferenças são transformadas em desigualdades e má distribuição de riquezas que afetam toda a população, sobretudo os negros e os indígenas. Além disso, outros grupos também carregam marcas por causa de sua origem, culturas e costumes, como é o caso de ciganos, judeus e palestinos. 

O que afinal de contas é Raça? 
A diferença de cor de pele é algo relativamente recente na história da humanidade. Quando o Homo sapiens surgiu, há 200.000 (duzentos mil) anos, todos tinham a pele negra e habitavam a África. À medida que foram se espalhando pelo mundo, primeiro na Ásia, depois na Oceania, na Europa e na América, as populações se adaptaram aos novos ambientes. Os cientistas acreditam que a seleção natural exercida nesses ambientes tenha dado origem às diferentes cores de pele e características anatômicas que distinguem as raças. Na África, a pele escura do ser humano foi preservada para protegê-lo do alto grau de radiação ultravioleta do sol. O grupo que foi para o norte da Europa sofreu um processo de seleção natural que favoreceu o clareamento da pele para aproveitar melhor o sol fraco e sintetizar a vitamina D, essencial para os ossos. 

Biologicamente as raças são definidas como grupos de pessoas — ou animais — que são fisiológica e geneticamente distintos de outros grupos. São da mesma raça os indivíduos que podem cruzar entre si e produzir descendentes férteis. O uso desse conceito para classificar seres iniciou-se há mais de um século, e naquela época se mostrava poucos científicos e buscava legitimar preconceitos já existentes. Um exemplo de uso de uma pseudo-ciência (falsa) foi a eugenia que busca a purificação das raças e justificou episódios lamentáveis da história da humanidade como o massacre de judeus pelo governo nazista. 

Recentemente, com os avanços da teoria genética, esse conceito foi reformulado. Os estudos mais recentes indicam que pode haver mais variação genética entre pessoas de uma mesma raça do que entre indivíduos de raças diferentes. Isso significa que um sueco loiro pode ser, no íntimo de seus cromossomos, mais distinto de outro sueco loiro do que de um negro africano. Em resumo, a genética descobriu que raça não existe abaixo da superfície cosmética que define a cor da pele, a textura do cabelo, o formato do crânio, do nariz e dos olhos. Por isso dizemos que tentar explicar as diferenças intelectuais, de temperamento ou de reações emocionais pelas diferenças raciais é não apenas estúpido como perigoso. 

Ignorando os avanços da ciência sobre o estudo do gênero humano, o pensamento racista ainda hoje entende raça como grupo social com traços culturais, linguísticos, religiosos, etc. que ele considera naturalmente inferiores ao grupo a qual ele pertence. De outro modo, o racismo é essa tendência que consiste em considerar que as características intelectuais e morais de um dado grupo, são consequências diretas de suas características físicas ou biológicas, negando assim tudo que a ciência moderna diz sobre esse tema. 

O Antropólogo Kabengele Munanga, afirma que mesmo hoje com os avanços da genética moderna apontando para a impossibilidade de classificar os seres humanos por raças, o racismo culturalmente se mantém em nossa sociedade, ou seja, mesmo não existindo diferenças entre os seres humanos que justifique classificá-los em raças, ainda existe racismo.

Racismo, um problema atual construído no passado 
Entre os problemas sociais enfrentados pela sociedade Brasileira na atualidade o preconceitos racial se destaca por sua permanência. Por ter origens históricas e cultural no Brasil racismo deve ser classificado como estrutural, na medida em que nossa sociedade, desde seu princípios, foi constituída em bases racistas, não reconhecimento da diversidade étnico-racial e em tentativa dos colonizadores europeus de subjugar e explorar as populações indígenas que aqui estavam e os africanos trazidos forçadamente para o nossos país. Os estudos sociológicos ao buscar compreender as raízes históricas e processo que sustentam posturas racistas no dias atuais, se mostra fundamental para a construção de um sociedade que supere esse racismo estrutural e permita que as futuras gerações reconheça, respeite e valorize as riquezas étnico-racial que compõem o povo Brasileiro. 
Tendo em vista a importância da discussão do tema Étnico-racial para o país, os primeiros sociólogos brasileiros, ainda na década de 30 do século XX, já se dedicavam ao estudo do tema. Entre os vários estudos destacam-se os realizados por Gilberto Freyre e Florestan Fernandes os quais veremos brevemente a seguir. 

A teoria da democracia racial e o mito da democracia racial 
Gilberto Freyre (1900-1987) formulou a teoria da democracia racial na década de 1930, num cenário em que a preocupação em definir o Brasil tomava conta dos debates políticos e acadêmicos. O pressuposto central dessa teoria é o de que as diferentes matrizes étnicas (europeia, ameríndia e africana) tiveram uma convivência salutar, resultando no equilíbrio entre elas na formação da identidade cultural brasileira. Essa formulação de Freyre transformou-se em uma alternativa às teorias raciais e eugênicas, por entender que a miscigenação, característica da formação social brasileira, longe de promover a degeneração física e moral da população, era exatamente o que definia nossa identidade nacional. Essa interpretação também fortaleceu a ideia de que no Brasil não haveria preconceito, o que teria gerado oportunidades econômicas e sociais equilibradas para as pessoas de diferentes grupos raciais ou étnicos. 
O sociólogo Florestan Fernandes (1920-1995), em seu livro A integração do negro na sociedade de classes (1965), atacou a ideia de convívio harmônico entre as raças. Para ele, a democracia racial seria um mito que mascarava a realidade de profundas desigualdades, na qual o negro se encontrava em desvantagem política e econômica. A perspectiva pela qual Florestan Fernandes enxergava a sociedade brasileira era a do conflito, não a da harmonia.


CONCEITOS BÁSICOS PARA ENTENDER A QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL NO BRASIL 

Etnia 
Baseia-se em traços e práticas culturais partilhadas pelo grupo, tais como músicas, costumes, comida, ritos e rituais. 
Exemplo: 1) descendentes de italianos que comem macarronada e pizza aos domingos, escutam a Tarantela e usam expressões como ‘mamma mia’. 2) alemães em SC e sua arquitetura, dieta e Oktoberfest Grupos étnicos no Brasil: pomerânios do ES, poloneses do PR, italianos de SP, xavantes no MS, ianomamis em RR, pataxós na BA. 

Raça/Cor na Biologia 
O termo raça foi inicialmente utilizado para distinguir pessoas de cores diferentes. Hoje sabe-se que não existem, biologicamente/geneticamente falando, raças distintas. Diferenças fenotípicas não caracterizam ou identificam raças distintas. Diferenças visíveis são adaptações ambientais sofridas ao longo do tempo. 

Raça/Cor na Sociologia 
Raça é uma construção social segundo a qual membros da população compartilham características físicas herdadas. A raça/cor depende de um critério arbitrário de escolha da sociedade. Cor é o critério comum, mas poderia também ser formato da cabeça, cor dos olhos, tipo de cabelo, etc. 
Diferenças físicas visíveis levam pessoas a assumirem certos comportamentos, provocando ações e atitudes que são objeto de estudo da sociologia (preconceito, discriminação, grupo minoritário). 

Preconceito vs. discriminação 
• Preconceito: atitude, idéia, pensamento ou opinião baseada em julgamento emotivo e sem fundamento, utilizando como base estereótipos ou generalizações preconcebidas. Preconceito pode existir sem que haja discriminação. Preconceitos são socialmente construídos e aprendidos pela experiência social e pelo processo de socialização. São adquiridos dos pais, da igreja, na escola, nos livros e nos filmes assistidos. Os preconceitos se baseiam em generalizações superficiais e depreciadoras do outro (em geral portador de características físicas e culturais diferentes e arbitrariamente consideradas inferiores); a tais generalizações a Sociologia denomina estereótipos. Os preconceitos são normalmente difundidos, enraizados e renovados por meio dos mecanismos socializadores, e sua reprodução ao longo da história foi responsável pela cristalização de profundas desigualdades em diversas sociedades. 
• Discriminação: ação deliberada e intencional de tratar um grupo social de maneira injusta e desigual. Exemplos extremos: genocídio, xenofobia, expulsão geográfica de determinado território. A discriminação também pode ocorrer sem que haja sentimento de preconceito: Ex.: mulher não paga, ou paga menos até x horas, estudante paga meia, negros que discriminam negros em processos não relacionados a cor. Às vezes a discriminação é dissimulada, não ficando claro, nem mesmo para quem a sofre, que ela de fato existe — o que torna ainda mais difícil superá-la. Discriminação é uma atitude ou tratamento diferenciado em relação ao outro que pode levar à marginalização ou exclusão. A discriminação e a segregação materializam as ideologias calcadas em preconceitos que refletem a hegemonia de um grupo e a subordinação de outro. 

Preconceito é ideia. Discriminação é ato.
Discriminação é uma manifestação pública do preconceito, e como tal é passível de controle pelo aparato jurídico do Estado. Pode-se ser preconceituoso sem traduzir tal preconceito em atos de discriminação. Ex.: mulheres dirigem mal, mas podem dirigir meu carro. Brancos são ruins de basquete mas podem jogar no meu time.


Persistência do racismo e a importância do movimento negro brasileiro 
Nas décadas de 1960 e 1970, o movimento negro brasileiro se inspirou na contribuição de Florestan Fernandes e lutou contra a teoria da democracia racial, pois só admitindo a existência do preconceito se pode lutar contra ele. Em 1989 o movimento negro conseguiu a promulgação da Lei 7.716/ 89, tornando o racismo crime inafiançável. 

Etnia: superando o conceito de raça 
O conceito de etnia se refere a um conjunto de seres humanos que partilham determinados aspectos culturais, que vão da linguagem à religião. São características sociais e culturais e, portanto, aprendidas — não nascemos com elas. Etnicidade é o sentimento de pertencimento a determinada comunidade étnica; é a identificação com um grupo social específico dentro de uma sociedade.

ATIVIDADES

1 — Defina os seguintes conceitos: 
a) Preconceito 

b) Tolerância 

c) Diversidade cultural 

d) Racismo e) Etnocentrismo 

2 — Escreva um texto dissertativo em que reflita sobre a seguinte questão: “Preconceito é algo que se aprende?” 

3 — Existe racismo no Brasil? É possível apontar situações em que ele ocorre? 

4 — Porque o racismo persiste no Brasil e como podemos combatê-lo? 

5 — Pesquisa 1 
— Por que dia 20 de novembro foi escolhido para comemorar o Dia da Consciência Negra? 

— Quem foi Zumbi dos Palmares e porque ele é um símbolo tão importante para o povo negro?

— O que foram os quilombos? 

— Como surgiu o Dia da Consciência Negra? 

6 — Pesquisa 2 
— Pesquisar objetivos, pautas atuais, principais conquistas e representantes do movimento negro no Brasil e no mundo. 

— Pesquisa sobre pessoas que lutaram pelos direitos dos negros no Brasil e no mundo. 

7 — Pesquisa 3 
— Pesquisar a importância da cultura negra no Brasil atual; 

— Pesquisar personalidades negras ou mestiças na História do Brasil; 

— Pesquisar sobre as populações descendentes dos quilombos (quilombolas). 

8 — Análise de Músicas 
Procure músicas que tratam sobre a questão das desigualdades raciais e analise. 

9 — Análise de vídeos 
Procure filmes ou documentários que tratam sobre a questão das desigualdades raciais e analise. 
Sugestões: “Vista minha pele”, “Pantera Negra”, “Todo mundo odeia o Cris”, “Corra”, 
“Um maluco no pedaço”. 

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