1º Ano Ensino Médio - Noturno - Violências, Criminalidade e Políticas Públicas, na área de Segurança.
O Assunto agora é Violência!
Lorena Rodrigues Abrantes
Basta ligar a TV que você será bombardeado por notícias sobre violência. Horas e horas de programação
televisiva que explora, espetaculariza e até mesmo tenta fazer humor frente às mais variadas cenas de
crueldade e degradação do ser humano. Esse canal diário ,que fornece doses tão grande de violência,
pode até gerar situações de doença onde a pessoa passa a ter medo de sair de casa. Para além disso,
você já se fez perguntas do tipo:
Por que tanta violência?
Quais são as origens?
No passado tínhamos de fato uma sociedade tão tranquila, ordeira como nossas/os avós/avôs nos dizem?
Em todos os países do mundo temos números crescentes de violência urbana, assim como no Brasil?
Será que a violência atinge todos de forma igual em nossa sociedade?
Há alguma relação entre desigualdade social e Violência ?
Apenas leis mais rígidas resolveriam o problema da violência no Brasil ?
Será que se todas as pessoas tivessem uma arma em casa para se defender teríamos uma sociedade
mais segura?
Como enfrentar verdadeiramente o problema do crescimento da violência nas cidades ?
Como apresentado nas primeiras aulas, o estudo da Sociologia busca ,a partir de pesquisa e investigações ,discutir essa e outras questões ligadas ao fenômeno da violência. São debates para além de
visões intuitivas e por vezes preconceituosas ,que buscam resolver questões complexas como a violência a partir de soluções simples.
As raízes da violência no Brasil são históricas, culturais e estruturais. Nas próximas páginas deste plano
de estudos iremos abordar, pelo olhar da sociologia, as diferentes facetas das violências no Brasil e no
Mundo. Acreditamos que ao tomarmos contato com conhecimentos sociológicos sobre o tema da violência estaremos mais próximos de verdadeiramente enfrentar esse grande problema social que assola
nossas vidas.
Violência — Uma abordagem sociológica
O Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa define violência como: “Qualidade ou característica de
violento / Ato de crueldade / Emprego de meios violentos / Fúria repentina / (jurídico) Coação que leva
uma pessoa à sujeição de alguém.”
É preciso discutir esse conceito mais a fundo. Para iniciarmos o debate,precisamos entender que existem diferentes tipos de violência:
1. Aquelas que identificamos facilmente, pois ferem fisicamente o indivíduo, podendo inclusive levar à
morte. Esse tipo de violência ocorre por meio da força física.
2. Há, entretanto, um outro tipo de violência em que não se utiliza a força física, não causa diretamente
danos físicos ao indivíduo, mas pode causar diversos outros danos psicológicos e morais.
Numa abordagem sociológica, dividiremos a violência em: Violência Física e Violência Simbólica.
Violência Física
Como já mencionado, esse tipo de violência pode ferir fisicamente e até mesmo levar à morte. Há diversos exemplos: socos, chutes, empurrões, golpes e ferimentos com utensílios cortantes ou com armas
de fogo. Poderíamos citar dezenas de formas de violência física.
É importante, contudo, entendermos que, muitas vezes, a violência física vem associada ao outro tipo
de violência: a violência simbólica. E é a respeito dela que iremos falar com mais ênfase, pois a ela podemos associar causas e consequências históricas e sociais.
Violência Simbólica
De acordo com o sociólogo Pierre Bourdieu, violência simbólica é a:
“Produção contínua de crenças que fazem com que, em sua socialização, os indivíduos se posicionem
seguindo critérios do discurso dominante. Assim, a violência simbólica está no reconhecimento e uso
deste discurso dominante.”
Para Bourdieu, o discurso das pessoas de maior poder na sociedade exerce influência nas pessoas
de menor poder, isso se dá de forma bem sutil, ou seja, as pessoas dominadas quase não percebem
essas influência.
Essa dominância dá-se por diversos fatores:
Um exemplo simples é a forma com que o Estado determina quais pessoas podem ou não frequentar
determinados espaços. Quando, por exemplo, na festa da escola, alunos pedem para tocar funk, mas
não é autorizado, sob o discurso de que funk não é cultura ou que não é agradável; sabemos que há muitas músicas do gênero que poderiam ser tocadas na escola, mas existe todo um discurso simbólico que
criminaliza o Funk. Sendo, pois, uma violência simbólica contra jovens que gostam de funk.
Um dos elementos que caracterizam a violência simbólica é o fato de que esse tipo de violência é naturalizada em nosso cotidiano. O próprio processo de socialização dos indivíduos, que ocorre via contato
com a família, escola, igreja e demais espaços de convivência reproduzem tais violências como aceitáveis e por vezes justas.
É possível também, as próprias vítimas desse tipo de violência passarem a entender como normal os
discursos que as oprimem, chegando ao ponto de reproduzi-los. Para entendermos melhor essa lógica
de como aprendemos a sermos violentos com nós mesmas/os, vamos aos exemplos:
— Quando uma mulher refere-se à outra usando uma lógica machista, fazendo julgamentos e proferindo ofensas pelo fato de estar usando roupa curta.
— Quando uma pessoa negra usa termos racistas ao se referir a outra pessoa negra.
— Quando um homossexual utiliza palavras homofóbicas para ofender alguém.
A pessoa vítima desse tipo de violência, comumente, reconhece como legítimo (verdadeiro) o discurso
e a visão de mundo de quem a discrimina, e passa a reproduzi-lo. Assim, alguém vítima de um preconceito, influenciada pela cultura e estruturas que fundamentam a sociedade, pode reproduzir preconceitos em seus discursos e ações.
Tipos de Violência Simbólica:
Se você não entendeu o que é violência simbólica, vamos discutir alguns exemplos para ficar mais fácil:
Violência Social: São opressões ou repressões de minorias sociais* por meio de discriminação, segregação, perseguição e intolerância.
Um exemplo que podemos destacar nesta Pandemia, sobre violência social, é o fato de órgãos de saúde
determinarem o uso de álcool em gel, a lavagem das mãos e o isolamento dentro de suas casas, sendo
que existe um número significativo de pessoas que ocupam os espaços das ruas, muitas vezes sem
acesso a banheiros ou ao álcool em gel.
Violência Doméstica:
Ocorre no ambiente familiar, geralmente contra mulheres, crianças ou idosos.
É praticada, na maioria das vezes, por parentes: pais, mães, irmãos, maridos ou outras pessoas próximas que sejam tutores (no caso de violência contra crianças). A violência, nestes casos, pode ser física
(agressões físicas) e também simbólica (violência moral e psicológica). Vale ressaltar que esta última
pode se dar, inclusive, fora do ambiente familiar, pois o agressor exerce domínio psicológico sobre a
vítima por meio de ameaças, produzindo o medo de fugir ou denunciar.
Agora que já entendemos melhor o conceito de violência e suas formas na nossa sociedade, é o momento de construirmos melhor este conhecimento por meio de exercícios.
*Minoria social: “Parcela da população que se encontra, de algum modo, marginalizada, ou seja,
excluída do processo de socialização. São grupos que, em geral, são compostos por um número
grande de pessoas, mas são excluídos por questões relativas à classe social, ao gênero, à orientação sexual, à origem étnica, ao porte de necessidades especiais, entre outras razões.” (“Minorias
Sociais”; Brasil Escola)
ATIVIDADES
1 — (Upe-ssa 2016) — Observe a charge a seguir:
A estrutura social é um tema presente nos estudos sociológicos. Com base na charge, é CORRETO
afirmar que
a) a desigualdade social fundamenta-se na habitação, pois a obtenção de outros elementos de
sobrevivência depende, exclusivamente, dos indivíduos.
b) os movimentos sociais funcionam como mecanismos que incentivam a criação de espaços
sociais, a exemplo do apresentado na charge.
c) a estratificação da sociedade brasileira é dividida em classes sociais, que são determinadas
por condições econômicas e sociais de vida.
d) o morador de uma das casas da charge compara sua residência com a de uma classe social
superior. Esse fato o deixa satisfeito com sua condição social.
e) a classe média no Brasil é caracterizada por possuir grande acúmulo de dinheiro que a torna
uma estrutura social frágil, se comparada a outras organizações sociais.
2 — (FGV-2016) Em junho de 2015, o Papa Francisco tornou pública a encíclica Laudato sí (Louvado
sejas), na qual trata do meio ambiente e da atual crise ecológica, conforme trecho a seguir.
48. O ambiente humano e o ambiente natural degradam-se em conjunto; e não podemos enfrentar adequadamente a degradação ambiental, se não prestarmos atenção às causas que têm
a ver com a degradação humana e social. De fato, a deterioração do meio ambiente e a da sociedade afetam de modo especial os mais frágeis do planeta: “Tanto a experiência comum da vida
quotidiana como a investigação científica demonstram que os efeitos mais graves de todas as
agressões ambientais recaem sobre as pessoas mais pobres”. Por exemplo (...), a poluição da água
afeta particularmente os mais pobres que não têm possibilidades de comprar água engarrafada,
e a elevação do nível do mar afeta principalmente as populações costeiras mais pobres que não têm para onde se transferir. O impacto dos desequilíbrios atuais manifesta-se também na morte
prematura de muitos pobres, nos conflitos gerados pela falta de recursos e em muitos outros problemas que não têm espaço suficiente nas agendas mundiais.
Apudhttp://w2.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/
papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html
No trecho selecionado da encíclica, o papa estabelece
a) a relação entre a desigualdade social e a fragilidade do equilíbrio ecológico planetário.
b) o vínculo entre a responsabilidade humana no aquecimento global e a elevação do nível do mar.
c) a interdependência entre o desenvolvimento tecnológico e o progresso material e moral.
d) o papel da política internacional para o uso responsável das fontes hídricas.
e
) a importância de preservar o bem comum, sobretudo a água potável.
3 — Qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal de uma pessoa é considerada
violência
a) física.
b) psicológica.
c) verbal.
d) integral.
e) simbólica.
4 — (UEL-2007)
“A proteção e a promoção dos direitos humanos continuaram a se situar entre as principais
carências a ser enfrentadas pela sociedade civil. [...] A enumeração das principais áreas de
intervenção das organizações da sociedade civil soa como demandas de séculos passados: a
ausência do estado de direito e a inacessibilidade do sistema judiciário para as não-elites; o
racismo estrutural e a discriminação racial e a impunidade dos agentes do Estado envolvidos
em graves violações aos direitos humanos. Como vimos, a nova democracia continuou a ser
afetada por um ‘autoritarismo socialmente implantado’, uma combinação de elementos presentes na cultura política do Brasil, valores e ideologia, em parte engendrados pela ditadura militar,
expressos na vida cotidiana. Muitos desses elementos estão configurados em instituições cujas
raízes datam da década de 30.”
Fonte: PINHEIRO, P. S. Transição Política e Não-Estado de Direito na República. In: WILHEIM, J. e PINHEIRO, P. S. (org.).
Brasil — um século de transformações.São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 296-297.
Em relação à violência, analise o texto anterior e selecione a alternativa que corresponde à ideia
desenvolvida pelo autor:
a) A democracia brasileira é fortemente responsável pelo surgimento de uma cultura da violência no Brasil.
b) Muito mais do que os traços culturais, é o desenvolvimento econômico que acarreta o desrespeito aos direitos humanos no Brasil.
c) Com a democratização, as não-elites brasileiras finalmente tiveram pleno acesso ao sistema
judiciário e aos direitos próprios do Estado de Direito.
d) Historicamente, o desrespeito aos direitos humanos afeta de modo igual a brancos e negros,
ricos e pobres.
e) A violência no Brasil expressa-se na vida cotidiana e, para ser superada, depende de ações da
sociedade civil.
Comentários
Postar um comentário