2º Ano Ensino Médio - Noturno - Individuo e Comunidade.
TEMA: TODA FORMA DE APRENDER É LIBERTADORA?
FIQUE POR DENTRO DOS CONCEITOS (pesquise…):
PODER – PANÓPTICO – INDIVIDUALISMO – CORPOS DÓCEIS
“POR QUE SUA ESCOLA É CONSTRUÍDA COMO UMA PRISÃO?
Porque neste lugar, como em qualquer outro, não se ama a liberdade, e eles magnificamente conseguem
contê-la, reduzi-la, restringi-la ou limitá-la ao máximo. O poder de ir e vir, de circular livremente sem
impedimentos, de se mover sem ter que dar explicações, de fazer uso como se deseja de seu tempo,
suas noites e seus dias; o de decidir quando se levantar e se deitar; a liberdade de trabalhar ou descansar,
comer, dormir, tudo o que manifesta a autonomia do indivíduo (a possibilidade de decidir sobre sua
existência em todos os detalhes), incomoda consideravelmente a sociedade como um todo. Por isso a
sociedade inventou um certo número de instituições que operam de acordo com técnicas de controle:
controle de seu espaço, controle do seu tempo.
A sociedade não gosta da liberdade porque esta não gera ordem, coerência social, comunidade útil,
mas sim fragmentação das atividades, individualização e atomização social. A liberdade provoca medo,
angústia: perturba o indivíduo, que se encontra frente a si mesmo, na dúvida, diante da possibilidade
de escolher e, assim, experimentar o peso da responsabilidade; mas também incomoda a sociedade,
que prefere personagens integrados ao projeto atribuído a cada um, ao invés de uma multiplicidade de
peças executadas por pequenos grupos de indivíduos.
O uso livre do nosso tempo, nosso corpo, nossa vida, gera mais angústia do que se simplesmente nos
limitarmos a obedecer as instâncias geradoras de docilidade, isto é, a família, a escola, o trabalho e
outras desculpas para acabar com a liberdade em troca da segurança que a sociedade oferece: uma
profissão, status, visibilidade social, reconhecimento baseado em dinheiro, etc. Por isso as pessoas,
de modo a evitar a angústia de uma liberdade sem objetos, preferem se jogar nos braços de máquinas
sociais que acabam por devorá-las, triturá-las e depois digeri-las.
Desde a sua mais tenra idade, a escola assume a função de socializá-lo, ou o que é o mesmo, fazer você
desistir de sua liberdade selvagem e levá-lo a preferir a liberdade definida pela lei. O corpo e a alma são
formatados, fabricados. Instala-se uma maneira de ver o mundo, de lidar com o real, de pensar as coisas.
Normaliza. O estudante do ensino fundamental, o estudante do ensino médio, aquele que se prepara
para entrar na Universidade, o estudante do ensino superior, sofrem o imperativo da rentabilidade
escolar: os pontos que devem ser acumulados, as notas que devem ser obtidas — preferencialmente acima da média, os coeficientes que decidem o que é importante ou não para melhor se integrar, os
arquivos acadêmicos que constituem outras tantas fichas policiais associadas a seus movimentos
administrativos, os deveres a serem feitos de acordo com um código muito preciso, a disciplina a ser
respeitada meticulosamente, o objetivo de ir para uma faculdade, o teatro do conselho de classe que
examina o extensão de sua docilidade, a distinção de seções dependendo das necessidades do sistema,
a obtenção de diplomas como se fossem fórmulas mágicas, mesmo que, por si só, eles não sirvam para
nada. Tudo isso visa menos torná-lo competente (se não, por que você não é bilíngue depois de estudar
por sete anos uma língua estrangeira?) do que medir sua aptidão para a obediência, a docilidade, a
submissão às demandas de professores, equipe pedagógica e direção.
‘E a arquitetura da escola?’ você vai me perguntar. Isso implica que, em cada hora do dia, desde o
momento em que você entra no estabelecimento até o momento em que vai embora, sabe-se onde
você está e o que faz. O uso do seu tempo em um lugar o transforma em objeto de uma marcação, de
um controle e de um conhecimento rigoroso.”
(ONFRAY, M., 2001, p. 125-126 [tradução livre])
ATIVIDADES
1 — “Historicamente, o processo pelo qual a burguesia tomou-se no decorrer do século XVIII a
classe politicamente dominante abrigou-se atrás da instalação de um quadro jurídico explícito,
codificado, formalmente igualitário, e através da organização de um regime de tipo parlamentar
e representativo. Mas o desenvolvimento e a generalização dos dispositivos disciplinares
constituíram a outra vertente, obscura, desse processo.
(Foucault, M. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 1987, p. 194).
A partir dessa citação, atenda às questões:
a) Qual a contradição a que Foucault faz referência no texto?
b) Quais são os dispositivos disciplinares a que ele se refere?
c) Justifique, com um exemplo o fato de que, para Foucault, o poder antecede o saber.
(ARANHA, M.L.A. & MARTINS, M.H.P., 2009, p. 209)
2 — “A noção de verdade para Foucault está ligada ao exercício ou, mais propriamente, a práticas de
poder disseminadas no tecido social. Esse poder não é exercido pela violência aparente nem pela
força física, mas pelo adestramento do corpo e do comportamento, a fim de ‘fabricar’ o tipo de
trabalhador adequado para a sociedade industrial capitalista. ”(Idem, p. 202)
A partir do trecho acima, reflita e escreva um texto apresentando e explicando exemplos que
encontramos em nossa sociedade e nos quais podemos identificar os elementos que caracterizam
o pensamento de Foucault.
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