1º Ano Ensino Médio - Noturno - Violências, Criminalidade e Políticas Públicas na área de Segurança.
Vamos falar de Juventude?
Mas, o que é juventude, afinal? Às vezes, não pensamos com profundidade sobre aquilo que vemos ou vivemos todos os dias e, nesse sentido, é comum que concordemos com pensamentos como: “juventude é sinônimo de problema”, ou então, “juventude não se interessa por política”, ou “essa juventude não quer saber de trabalhar”. Para que pensemos a juventude em termos sociológicos, é necessário que comecemos a nos questionar sobre essas ideias e que busquemos compreender a juventude como uma categoria social, ou seja, um modo, entre outros, a partir do qual a sociedade se organiza e pode ser compreendida. Nesse sentido, importa olhar a juventude como um fenômeno social e reconhecer a sua complexidade, dado que se encontra envolta por diversas dimensões da vida social, tais como: classe social, família, pertença racial, educação, gênero, trabalho, territorialidade, por exemplo. Por isso, é importante que, em paralelo à questão etária, compreendamos a juventude não como uma experiência homogênea, ou seja, igual para todas/os jovens, em todos os lugares, mas, ao contrário, como uma experiência marcada pelos diversos contextos em que os sujeitos se inserem. Assim, podemos pensar que pessoas pobres ou da classe média baixa vivem a juventude de um modo diferente das pessoas de classe média alta ou ricas, do mesmo modo, a vivência da juventude pode ser diferente entre pessoas negras e brancas, ou entre homens e mulheres. É a partir desse ponto que vamos para nossa discussão sobre Juventude e Violência no Brasil, focando principalmente no contexto que envolve juventude, raça e classe. Nesse sentido, falaremos de um assunto sério: a violência contra a juventude negra e pobre.
Juventude e violência
O trabalho de Jacobo Waiselfisz aponta para vigência da violência contra a juventude no interior do Brasil, pois, de acordo com o levantamento produzido por este autor, para o intervalo entre 1980 e 2012, são jovens, do sexo masculino e negros, os sujeitos que têm sido, em níveis altíssimos, recorrentemente assassinados no país. No que tange especificamente à questão etária, o autor nos informa que: “Se na população não jovem, só 2,0% dos óbitos foram causados por homicídio entre os jovens .os homicídios foram responsáveis por 28,8% das mortes acontecidas no período 1980 a 2012”. Associando a dimensão etária à questão racial, o autor, a partir de dados do período entre 2002 e 2012, nos informa que: “para cada jovem branco que morre assassinado, morrem 2,7 jovens negros”. Dados do IBGE para o período entre 2012 e 2017 confirmam esse estado de coisas e indicam para uma taxa de homicídios de 34 jovens brancos por 100 mil habitantes, ao passo que, entre os jovens negros, essa taxa é de 98,5 homicídios por 100 mil habitantes. Em termos de escolaridade, os dados do Atlas da Violência 2019, publicado pelo IPEA, indicam que entre os anos de 2007 e 2017 as vítimas de homicídio possuíam, em sua maioria, o ensino fundamental incompleto. Feitas essas considerações estatísticas, importa compreendermos que os homicídios de jovens negros, pobres e moradores de periferia encontram-se associados, principalmente, à dinâmicas de violência policial, chacinas e ao conflito entre grupos diversos, conflitos esses atrelados à noções de honra, à luta pela defesa de territórios ou à vingança.
Contudo, para além dos índices de letalidade, outro ponto deve ser acrescentado na nossa discussão sobre os contextos de violência que afetam jovens negros e pobres, trata-se da questão do encarceramento. Vejamos! Dados do Mapa do Encarceramento para o período entre 2005 e 2012 indicam que a população carcerária no Brasil é composta, majoritariamente, por jovens com idades entre 18 e 24 anos. Em paralelo, a dimensão racial aponta, novamente, para uma predominância da população negra, que em 2012 compunha 60,08% das pessoas encarceradas. Neste sentido, podemos verificar que: “os jovens negros estão mais suscetíveis ao homicídio, assim como ao encarceramento”. Jovens esses que, assim como nos contextos de homicídio, não chegaram, em sua maioria, a completar o ensino fundamental, visto que, em relação aos dados sobre escolaridade, essa é a principal característica das pessoas encarceradas no país.
Considerações necessárias:
Dados do IBGE para o ano de 2018 indicavam que, no Brasil, cerca de 11 milhões de jovens com idades entre 15 e 29 estavam fora dos espaços de educação formal, como escolas, cursos técnicos e faculdade, assim como estavam fora do mercado de trabalho. Em um estudo de 2009, Rosana Ribeiro e Henrique Neder nos informam que, em termos comparativos, as/os jovens pobres possuíam índices de desocupação mais elevados em relação aos índices apresentados pelas/os jovens não pobres, fato relacionado, diretamente, a um menor índice de escolaridade por parte dos jovens pobres. Esses dados, assim como os de homicídio e encarceramento, nos ajudam a compreender o quadro de baixas expectativas em relação ao futuro por parte das/os jovens pobres e, entre essas/es, mais especificamente as/os jovens negras/os. Ora, se prestarmos atenção, com bastante cuidado, veremos um contexto de constantes violências físicas e simbólicas que atravessam a vida dessas/es jovens, e, nesse sentido, precisamos nos questionar quais têm sido as consequências dos modos como nossa sociedade tem se organizado, em relação a essa juventude e se devemos continuar da forma como estamos.
ATIVIDADES
A partir do texto lido e de seus conhecimentos sobre o contexto de violência letal contra jovens no Brasil, faça uma análise do assunto, com as suas palavras.
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