1º Ano Ensino Médio - Noturno - Língua Portuguesa - Linguagem e língua.
Leia o Texto abaixo:
Resenha do livro Quarto de Despejo: Diário de uma favelada
Por Jarleson Lima – Fala! Centro Universitário Fametro – AM
Como uma biografia, o diário de Carolina Maria é tecido por uma linguagem simples que muito se
assemelha à oralidade, com gírias e erros ortográficos que dão tom ainda mais sincero à obra. Aliás, a
escrita é um dos pontos contundentes de Quarto de Despejo, grande parte dos acontecimentos é narrada com o período do dia que se segue.
Apesar da modéstia na produção, o livro é perspicaz no conteúdo. As palavras soam de maneira
estridente. É como se cada sentença emitisse um som inquietante e tivesse gosto de xarope, tornando
a experiência difícil, porém, necessária. A realidade grita por entre as páginas. O diferencial é como a
autora conta os fatos: parece que estamos em sua frente, tomando um copo de leite e comendo o pão
adormecido que costumava comprar por seis cruzeiros, enquanto ela nos despeja verdades que não
queremos escutar. Truque de gênio.
Genialidade que, a propósito, tem começo na elaboração da metáfora que dá nome à obra. Carolina
Maria pensou na cidade de São Paulo como uma grande casa: o Palácio é a sala de visita, a Prefeitura é
a sala de jantar e a cidade é o jardim. A favela é entendida, então, como um quarto de despejo, no qual
ficam os objetos fora de uso que vão para o lixo ou são queimados. É desse modo que a autora se sente: um farrapo que fora deixado de lado pela sociedade e jogado no inferno. Assim, sem eufemismos, a
premissa do Diário de uma favelada é subjetivamente feita. Cabe aqui, então, lembrar que em momento
algum ela dita o tema da obra. Você sabe!
Em seus relatos, além dos filhos, outros personagens são recorrentes: os vizinhos do barraco 15×15
em que mora, principalmente aqueles com quem possui desavenças. Os moradores da favela do Canindé são descritos de modo bruto, constantemente remetidos a animais por suas ações quase primitivas.
Não é difícil encontrá-los rolando no chão em brigas ocasionadas por fatos ordinários ou mantendo
relações sexuais para todo mundo ver.
Durante a leitura é persistente perceber que tais características aproximam Quarto de Despejo de
outro livro: O Cortiço, de Aluísio Azevedo. O romance naturalista realista encontra, aqui, paralelo por
também transformar a maioria dos personagens em bestas que agem por impulso.
E se estamos falando de personagens, não se pode deixar de lado um que é, praticamente, o elo que
une todos os “núcleos”: a Fome. Dizer que a Fome é apenas um personagem abstrato seria pura tolice.
Em Quarto de Despejo ela toma forma — mesmo que ironicamente impalpável — de um carrasco sanguinário. Tal carrasco corrói, gera inimizades, destrói laços, provoca suicídios e assassinatos.
Carolina Maria de Jesus não hesitou em transcrever uma dura realidade do Brasil do modo que deve
ser feito. Não “colocou açúcar” naquilo que, muitas vezes, é suavizado para não chocar. Precisamos
ficar chocados, pois só assim nos questionamos. Aliás, Quarto de Despejo proporciona isso: reflexão.
Somos levados a pensar nos maniqueísmos cotidianos e na falha deles. Acima de tudo, essa é uma
obra que mais do que livro de cabeceira, deveria ser bibliografia recomendada em grades curriculares
da educação.
Retirado do site: https://falauniversidades.com.br/resenha-quarto-de-despejo-diario-de-uma-favelada/
1 — Através do texto, a autora Carolina Maria de Jesus dá voz à sua condição étnica, social e feminina.
A autora descreve alguns problemas que ela enfrenta, quais são eles?
2 — Leia o fragmento abaixo extraído do livro Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus.
“1 DE JULHO...
Eu percebo que se este Diário for publicado vai magoar muita gente. Tem pessoa que quando
me ver passar saem da janela ou fecham as portas. Estes gestos não me ofendem. Eu até gosto
porque não preciso parar para conversar. (...) Quando passei perto da fábrica vi vários tomates. Ia
pegar quando vi o gerente. Não aproximei porque ele não gosta que pega. Quando carregam os
caminhões os tomates caem no solo e quando os caminhões saem esmaga-os. Mas a humanidade
é assim. Prefere vê estragar do que deixar seus semelhantes aproveitar.” (JESUS, 1997, p. 69.)
(UNIMONTES-2014) Sobre o excerto acima e sobre o livro Quarto de despejo, de Carolina Maria de
Jesus, a única afirmativa INCORRETA é:
a) Para a autora, os papéis colhidos nas ruas são sua fonte de sobrevivência e, mais tarde, a
matéria-prima para a escrita dos seus diários.
b) Os diários, além de uma forma de extravasamento da raiva e de fazer-se conhecer, eram, para
a autora, um registro da memória.
c) A dimensão social e humanística do romance é perceptível por meio da confissão diarística
da narradora.
d) A linguagem de norma culta e singular da escritora do povo legitima o lugar social de sua autora.
3 — (IFSULDEMINAS-2011) Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, tem como traço recorrente,
EXCETO:
a) denúncia contra o racismo
b) crítica ao descaso do governo com a favela
c) linguagem padrão
d) repetição da rotina da autora
4 — (UNIMONTES-2014) Sobre o livro Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, todas as afirmativas abaixo estão corretas, EXCETO:
a) A autora — mulher, negra, mãe solteira — assinala a sua escrita com a consciência do que é
estar no “quarto de despejo” da grande cidade de São Paulo.
b) O ato cotidiano de recolher resíduos da sociedade paulistana é uma evasão de uma mulher
que se sente marginalizada.
c) O diário Quarto de despejo é constituído de fragmentos de vida reunidos em cadernos encontrados nas ruas.
d) Os relatos diários são marcados por um olhar de denúncias e pela descrição da rotina marginal
de sua autora.
5 — Através de sua obra, Carolina denuncia os problemas comuns enfrentados pela população, o preconceito, as injustiças contra as mulheres e negros. Apesar de ser uma obra publicada em 1960, ainda hoje, as desigualdades sociais ignoram uma grande parte da população. Veja a imagem a seguir e escreva uma carta para Carolina. Faça uma reflexão sobre o texto Quarto de Despejo e a imagem abaixo.
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