3º Ano - Ensino Médio - Noturno - Filosofia - Liberdade e Determinismo.

A Existência Humana, segundo Nietzsche 

Com Sócrates, teria surgido um tipo de filósofo voluntário e sutilmente “submisso”, inaugurando a época da razão e do homem teórico, que se opôs ao sentido místico de toda a tradição da época da tragédia. 
Para Nietzsche, a grande tragédia grega apresenta como característica o saber místico da unidade da vida e da morte e, nesse sentido, constitui uma “chave” que abre o caminho essencial do mundo. Segundo Sócrates, a arte da tragédia desvia o homem do caminho da verdade: “uma obra só é bela se obedecer à razão”, fórmula que, segundo Nietzsche, corresponde ao aforismo “só o homem que concebe o bem é virtuoso”. Perdendo-se a sabedoria instintiva da arte trágica, restou a Sócrates apenas um aspecto da vida do espírito, o aspecto lógico-racional; faltou-lhe as visões místicas, possuídas que foi pelo instinto irrefreado de tudo transformar em pensamento abstrato, lógico, racional. 
Segundo Nietzsche, o cristianismo concebe o mundo terrestre como um vale de lágrimas, em oposição ao mundo da felicidade eterna do além. O cristianismo,continua Nietzsche, é a forma acabada da perversão dos instintos que caracteriza o platonismo, repousando em dogmas e crenças que permitem à consciência fraca e escrava escapar à vida, à dor e à luta, e impondo a resignação e a renúncia como virtudes. São os escravos e os vencidos da vida que inventaram o além para compensar a miséria; inventaram falsos valores para se consolar da impossibilidade de participação nos valores dos senhores e dos fortes; forjaram o mito da salvação da alma porque não possuíam o corpo; criaram a ficção do pecado porque não podiam participar das alegrias terrestres e da plena satisfação dos instintos da vida. Vontade de aniquilamento, hostilidade à vida, recusa em se admitir as condições fundamentais da própria vida”. 
Nietzsche propôs a si mesmo a tarefa de recuperar a vida e transmutar todos os valores do cristianismo: “munido de uma tocha cuja luz não treme, levo uma claridade intensa aos subterrâneos do ideal”. Nietzsche traz à tona, por exemplo, um significado esquecido da palavra “bom”. Do ponto de vista do intérprete que desça até os bas-fonds da consciência, o Bem é a vontade do mais forte, do “guerreiro”, do arauto de um apelo perpétuo à verdadeira ultrapassagem dos valores estabelecidos, do super-homem, entendida esta expressão no sentido de um ser humano que transpõe os limites do humano, é o além-do-homem.

Os Limites do Humano: O Além-do-Homem 
Em Ecce Homo, Nietzsche assimila Zaratustra a Dioniso, concebendo o primeiro como o triunfo da afirmação da vontade de potência e o segundo como símbolo do mundo como vontade, como um deus artista, totalmente irresponsável, amoral e superior ao lógico. Para Dioniso, o sofrimento, a morte e o declínio são apenas a outra face da alegria, da ressurreição e da volta. Com essa concepção, Nietzsche responde ao pessimismo de Schopenhauer: em lugar do desespero de uma vida para a qual tudo se tornou em vão, o homem descobre no eterno retorno a plenitude de uma existência ritmada pela alternância da criação e da destruição, da alegria e do sofrimento, do bem e do mal. O eterno retorno, e apenas ele, oferece, diz Nietzsche, uma “saída fora da mentira de dois mil anos”, e a transmutação dos valores traz consigo o novo homem que se situa além do próprio homem. Se se interpreta vontade de potência, diz Nietzsche, como desejo de dominar, faz-se dela algo dependente dos valores estabelecidos. Vontade de potência, diz Nietzsche, significa “criar”, “dar” e “avaliar”. 
Nesse sentido, a vontade de potência do super-homem nietzschiano o situa muito além do bem e do mal e o faz desprender-se de todos os produtos de uma cultura decadente. A moral do além-do-homem, que vive esse constante perigo e fazendo de sua vida uma permanente luta, é a moral oposta à do escravo e à do rebanho. Oposta, portanto, à moral da compaixão, da piedade, da doçura feminina e cristã. Assim, para Nietzsche, bondade, objetividade, humildade, piedade, amor ao próximo, constituem valores inferiores, impondo-se sua substituição pela virtù dos renascentistas italianos, pelo orgulho, pelo risco, pela personalidade criadora, pelo amor ao distante. 
Compreende-se, assim, porque Nietzsche desacredita das doutrinas igualitárias, que lhe parecem “imorais”, pois impossibilitam que se pense a diferença entre os valores dos “senhores e dos escravos”.

ATIVIDADES

 1 — As alternativas a seguir apresentam e descrevem conceitos encontrados na filosofia de Nietzsche, exceto: 
a) A vontade de potência: motivo básico da ação do homem, a vontade de viver e adaptar-se aos desígnios sociais. 
b) O super-homem: indivíduo que é capaz de superar-se e possui um valor em si. 
c) O eterno retorno: recorrência permanente dos mesmos evento. 
d) Bondade, objetividade, humildade, piedade, amor ao próximo, constituem valores inferiores. 

2 — (UFFS – FEPESE – 2010) No pensamento de Nietzsche, pode-se encontrar grande quantidade de considerações a respeito dos valores. Assinale a alternativa que não está de acordo com a filosofia de Nietzsche sobre os valores. 
a) A perda da fé em Deus conduz à desvalorização de todos os valores. 
b) É preciso reconhecer que, pelos seus próprios critérios, nossa moral é imoral. 
c) Deve-se criar novos valores por meio da vontade de potência. 
d) Não existe papel para a razão na compreensão dos valores.

3 — (UFFS – FEPESE – 2010) Para lidar com o tratamento dos valores no pensamento de Nietzsche, o conceito da “morte de Deus” é essencial. Assinale a alternativa que reflete esse conceito 
a) A morte de Deus desvaloriza o mundo. 
b) A morte de Deus gera necessariamente o super-homem. 
c) A morte de Deus implica a perda das sanções sobrenaturais dos valores. 
d) A morte de Deus exige o retorno a Apolo e a Dionísio. 

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