3º Ano - Ensino Médio - Noturno - Sociologia - Atualidades — Pandemia (retomada).
Esta semana gostaríamos de sugerir a você uma pergunta muito importante: De que forma você e
sua família, sua comunidade, sua escola, estão sendo impactadas pela Pandemia do COVID-19? Para
isso propomos uma proposta de redação. É muito importante que você se dedique a redigir um texto
nos moldes do ENEM, pois além de treinar para a avaliação, você também tem a oportunidade de trabalhar a sua argumentação, o que é de muita relevância para a aprendizagem da Sociologia.
A partir das leituras do PET 4, suas vivências, nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação e com ajuda dos textos abaixo, redija um texto dissertativo-argumentativo, em modalidade escrita
formal da língua portuguesa, sobre o tema “Os Impactos da Pandemia e suas Desigualdades Sociais”,
apresentando uma proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e
relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa do seu ponto de vista.
TEXTO I
“As pessoas devem ficar em casa”, recomenda o coro, no teatro a céu aberto, vocalizando num megafone. E lá vão as pessoas, obedientes, trancafiarem-se em suas casas. Vemos, nas varandas e nas
sacadas italianas, as pessoas tomando vinho, cantando óperas, corificando o “Bella Ciao”.
Beleza: varanda ok, vinho ok, sobrancelha ok.
Aí você olha aquilo e fala: “vejam, as pessoas!”. Ilze scamparini, coração sangrando, chora pelas pessoas; Guga Chacra, todo arrepiado, vai aos prantos pelas pessoas. Compreensível, são seus iguais.
O vírus, insensível, nômade e ubíquo, pilotando sua retroescavadeira anárquica, derruba fronteiras e
invade países. Espera passar o carnaval, que ele não é muito de festas, e chega ao Brasil.
“As pessoas devem ficar em casa”, grita o guarda municipal, com o apito na mão, numa praça em São
Paulo. Aí surgem as perguntas, tipicamente brasileiras: “Onde é a minha casa?”, indaga o sem-teto. “O
que é uma pessoa?”, pergunta o “menino de rua”. Questões enigmáticas.
Marcel Mauss, antropologizando a parada, tentou responder à pergunta do garoto andrajoso, escarafunchou diversas culturas mundo afora e saiu mais confuso que o moleque descamisado, ouça-o: “são
raras as sociedades que fizeram da pessoa humana uma entidade completa, independente de qualquer
outra, exceto de Deus”.
Hummm Pessoa humana? E tem pessoa inumana?
Heidegger ainda tentou organizar a coisa, categorizando essa abstração nas formas ônticas e ontológicas. Mas sabemos que o velho Martin é como o velho guerreiro e, tal qual o chacrinha, veio mais para
confundir do que para explicar. Nada é mais didático do que aquelas fotografias em preto e branco dos
pretos estadunidenses marchando pelas ruas com um cartaz no pescoço onde se lia: “I’m a man.”
Hummm Essa doeu hein, man?
Fanon, o gigante, já havia dito que o homem negro não é um homem, é um homem negro. E há, ainda, mesmo depois de Fanon, quem se pergunte: “por que diabos uma pessoa tem que gritar que é uma
pessoa?” E você aí, todo sabichão, achou que sabia essa. Mas… você tá redondamente enganado, meu
camarada. Há as pessoas e as não-pessoas.
Recorda-te que o estado de direito brasileiro, na época escravagista, já havia categorizado o negro
como um semovente. Logo, conclua descárticamente, uma não-pessoa-humana! Nada como um vírus
para te ensinar o que lhe ocultaram na escola.
Agora, imagina você que algumas pessoas, obedecendo ao guarda da esquina, estão em quarentena
em casa; porém, com as suas empregadas domésticas que, obviamente, aquarentenaram-se involuntariamente na casa alheia. Eis aí as não-pessoas, tal qual o sem-teto e o “menino de rua”.
Lembra-te que o Lauro Jardim nos relatou que um casal de São Conrado está trancafiado em casa
sem contato com “outras pessoas”? Com o médico eles só falam ao telefone, relata o sabe-tudo. O diabo
é que a mulher que lava os pratos dessas pessoas estava lá, lavando pratos e fazendo a mamadeira do
casal de marmanjos. Lembra que eles não tinham contato com “outras pessoas?”
Então, percebe a placa gritando no pescoço daquela mulher de avental? “I’m a man!”
[...] “As pessoas devem ficar em casa”, lembra?
Se as pessoas ficam em casa, quem lhes leva o lanchinho para beliscar durante o intervalo de uma
série na Netflix e na Globo Play? Um robô? Um drone? Uma libélula com o macacão da firma?
Ora, uma não-pessoa, montada numa bike enferrujada e carregando uma caixa quadrada nas costas.
Pra que essa não-pessoa coma é preciso levar comida para as pessoas comerem, ou cozinhar para elas
e fazer aviãozinho para que elas engulam sem reclamar. [...]
P.S: vá lá no Google Image e digite a palavra pessoa. Veja o resultado do que se categoriza
como pessoa.
Fonte do texto: Lelê Teles. Coronavírus, uma abordagem antropológica.
Disponível em https://www.geledes.org.br/coronavirus-uma-abordagem-antropologica/.
TEXTO II
“Dados da pesquisa TIC Educação 2019, sobre acesso e uso de tecnologias, mostra que os alunos do
ensino médio usam mais as tecnologias do que os alunos mais novos, de acordo com a coordenadora da
pesquisa, Daniela Costa. O estudo aponta que, entre os alunos do 2º ano do ensino médio, 93% são usuários
de internet. Uso de aplicativos de mensagem instantânea (98% afirmam realizar esta atividade), uso de redes sociais (96%) e pesquisas na internet por curiosidade ou por vontade própria (95%) são os mais citados.
Grande parte dos alunos do 2º ano do ensino médio afirma utilizar a internet também para aprender
a fazer algo que não sabia ou que tinha dificuldade em fazer (94%), ler ou assistir a notícias (91%) e ler
um livro, um resumo ou um e-book (65%). No entanto, enquanto 95% destes alunos afirmam assistir a
vídeos, programas, filmes ou séries na internet, 57% dizem postar na rede um texto, uma imagem ou um
vídeo que ele ou ela fez. [...]”
Fonte: NOGUEIRA, F. Ensino remoto: o que aprendemos e o que pode mudar nas práticas e políticas públicas.
Disponível em: https://porvir.org/ensino-remoto-o-que-aprendemos-e-o-que-pode-mudar-nas-praticas-e-politicas-publicas/.
Acesso em: 12 de ago. de 2020.
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