1º Ano - Ensino Médio - Noturno - Sociologia - Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Consumo e Publicidade Infantil
Lorena Rodrigues Abrantes e Paulo Vinícius Faria Pereira
Você já parou para pensar o porquê de gostarmos de determinadas coisas e outras não? O nosso
estilo musical favorito, a nossa comida favorita ou como gostamos de nos divertir não são características inatas a nós, ou seja, não nascemos com elas. Contudo, elas são determinadas pelas influências
que vivenciamos no nosso dia a dia.
Enquanto indivíduos, nós somos influenciados pelas instituições sociais da nossa sociedade (como
a família, a escola, a igreja e pelos grupos sociais em que estamos inseridos (isto é, a nossa família,
nosso grupo de amigos, a escola que frequentamos). A família, a escola, a igreja, os grupos de amizades desempenham grande influência sobre os nossos gostos musicais, comidas, opções de lazer,
entre outros. Você concorda? Outra instituição que tem exercido grande influência sobre as pessoas é
a mídia, como a televisão, o Instagram, o Facebook.
De uma forma geral, a mídia pode ser entendida como todas as ferramentas que transmitem informações ou que possibilita a troca dessas informações. Porém, quando falamos da mídia, nos referimos
aos meios de comunicação de massa que, por meio da internet, televisão, jornal ou rádio, buscam disseminar um conteúdo para o maior número possível de pessoas. Nesse sentido, por desempenhar esse
papel, a mídia também exerce a função de influenciar os nossos desejos, seja pelo alimento que queremos comer, pela música que queremos ouvir, a roupa que queremos vestir e ainda, as possibilidades
de lazer. Quem nunca viu crianças pedindo para que suas mães comprem determinados produtos, só
porque na propaganda da televisão tinha uma música interessante?
Uma das funções da mídia é incentivar o consumo. O consumo pode ter várias interpretações, desde
o contexto desse tema – a sociedade de consumo –, quanto o comportamento dos indivíduos que fazem
uso do consumo – o consumidor. A forma como o tema será tratado reflete uma visão de mundo, porque
pode-se tratar do consumo como algo ruim que acompanha os males do capitalismo; pode-se tratar do
consumo pelo viés da racionalidade,em que os indivíduos sabem como e por que consomem. Ou ainda,
tratar do tema como uma atividade própria dos seres humanos, como afirma a antropóloga Lívia Barbosa “afinal, consumir é uma das mais básicas atividades do ser humano – pode-se viver sem produzir,
mas, não sem consumir”.
Entendemos que a mídia pensa o consumo como a “utilização de bens e serviços” em vista do aquecimento da economia na sociedade capitalista, que também pode ser entendida nesse contexto como
sociedade de consumo. Mas também como o indivíduo se apropria dos bens em processo de consumo.
Por isso o sociólogo Zygmunt Bauman nos lembra que “compramos coisas como sinais do que queremos que os outros pensem que somos. Resumindo: O que compramos misturou-se profundamente à
nossa identidade. Agora somos o que compramos”.
Os educadores Eleandro Carlos Rossatto e Luis Oscar Ramos Corrêa falam que “vivemos em uma
economia de mercado que coloca o aspecto financeiro acima de todos os demais e transforma tudo em
mercadoria, que valoriza pessoas pelo seu padrão de consumo, que cria vícios de acúmulo do supérfluo
como forma de alguém se sentir importante”. (ROSSATTO, Eleandro Carlos; CORRÊA, Luis Oscar Ramos. Educação
Popular e Economia Solidária. In: ASQUIDAMINI, Fabiane (org.); VIAL, Eloir Antonio (org.). Sustentabilidade... eis a questão:
juventudes, trabalho e economia. São Leopoldo: CEBI, 2010, p.66-78).
Ao fazer isso, a mídia quer atingir todas as pessoas, independente do seu gênero, idade ou estrato
social. Assim, as crianças também se tornam alvos para o consumo. Por isso, se torna importante discutirmos sobre a publicidade infantil.
Vamos refletir então sobre a publicidade infantil:
“A criança e o adolescente têm direito à informação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos, produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento”.
Estatuto da Criança e do Adolescente- Art.71
“As emissoras de rádio e televisão somente exibirão, no horário recomendado para o público infanto-juvenil, programas com finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas”. Estatuto da
Criança e do Adolescente - Art.76
Você já pensou no porquê de você gostar de determinada marca de tênis? Ou já parou para pensar o
motivo de gostarmos, muitas vezes, daquilo que está “na moda”?
Vamos a um exemplo bem atual: Nos últimos meses, várias blogueiras e
youtubers postaram fotos e vídeos refletindo a própria imagem num espelho redondo (também conhecido por espelho adnet). Assim, várias crianças e adolescentes (e até mesmo adultos) compraram um. O que significa
postar uma foto com a imagem refletida no modelo de espelho redondo?
Para várias pessoas não significa nada. Mas para aquele universo composto por crianças e adolescentes que seguem blogueiros e youtubers que
estão usando o espelho redondo, significa dizer que você está “na moda”,
que você não apenas faz parte daquele grupo, como também acompanha
as tendências dos influenciadores digitais mais importantes do seu grupo
social.
Então algo que há um
ano não teria importância
nenhuma na sua vida, como
um espelho redondo, se
torna um item almejado por
você e por outros adolescentes. Passa a ser um item muito pesquisado na busca do
Google. E a partir daí a indústria começa a produzir mais
espelhos redondos, pois passa a existir uma demanda de
compra, que antes era pequena.
Imagine agora seu irmão que está no 7° ou 8° ano do
fundamental, ou sua priminha que está com 6 anos na
educação infantil. Talvez eles passem algumas horas do
dia em frente à televisão assistindo desenho ou filme.
Os intervalos dos programas infantis são bombardeados com propagandas voltadas para as crianças:
Propaganda daquele biscoito recheado que o aluno fica com cara de biscoito, aquele achocolatado que
“dá energia pra valer”, aquela batata “da onda”, aquele cereal “com 10 vitaminas e minerais”. Provavelmente ao ler, você se lembrou das marcas destes produtos não é mesmo? Sabe por quê? As propagandas, em algum momento da sua vida, também te incutiram o desejo de consumir estes alimentos.
Podemos citar dois grandes problemas da publicidade infantil:
1- As crianças ao ver o produto na propaganda desejam consumir. Seja um brinquedo da moda,
seja um alimento como um biscoito recheado ou uma barra de chocolate. Porém, muitas destas
crianças não possuem condição social favorável e sentirão vontade de ter produtos que não terão
condição de comprar. Um adulto (e até mesmo um adolescente) consegue entender e lidar com
essa situação, mas as crianças, muitas vezes, não conseguem entender que aquilo que está passando na televisão, e parece ser tão bom, não está ao alcance delas. A propaganda voltada para o
público infantil pode ser extremamente cruel: Mostrar, por exemplo, na época de natal, um papai
Noel dizendo que vai levar brinquedos para as “crianças que foram boazinhas durante o ano” é perverso com crianças pobres cujos pais mal tem dinheiro para as despesas básicas de alimentação
e moradia. O nosso país possui uma desigualdade social enorme, como já foi falado em PETs anteriores, porém a publicidade infantil atinge indiscriminadamente crianças pobres e ricas.
2- O segundo grande problema da publicidade infantil é incutir nas crianças e nos adolescentes desejo
por alimentos nada saudáveis. Isto vem agravando, no Brasil e no mundo, o quadro de obesidade e
sobrepeso infantil. De acordo com dados do IBGE 2008-2009, no Brasil cerca de 33,5% das crianças
sofrem de sobrepeso ou obesidade. E muitas crianças sentem vergonha de levar alimentos saudáveis para a escola, como frutas e sucos naturais, pois não querem se sentir diferentes dos colegas. A
maioria das crianças, devido à influência da mídia, preferem comer lanches industrializados na escola
e muitos responsáveis pelas crianças, por falta de tempo de preparar diariamente lanches saudáveis,
ou mesmo para não contrariar suas crianças, permitem que elas levem lanches industrializados.
ATIVIDADES
Questão 01. UEG 2013 (adaptado).
Analise a tira que segue.
Analisando-se os quadrinhos e partindo das leituras sociológicas e filosóficas, pode-se afirmar que:
a) na sociedade baseada no consumismo, a identidade social é construída de forma independente
da posse ou do consumo de bens materiais.
b) o carro é o maior símbolo de consumo na sociedade moderna e conduz o ser humano para a felicidade.
c) o carro, no processo dialógico dos personagens, é um mero pretexto para demonstrar o valor da
amizade.
d) o consumo e o status são formas básicas de competição social em uma sociedade na qual o ter
se torna mais importante que o ser.
Questão 02. ENEM 2017 (Adaptado)
O comércio soube extrair um bom proveito da interatividade própria do meio tecnológico. A possibilidade de se obter um alto desenho do perfil de interesses do usuário, que deverá levar às últimas
consequências o princípio da oferta como isca para o desejo consumista, foi o principal deles.
(SANTAELLA, L. Culturas e artes do pós-humano: da cultura das minhas à cibercultura. São Paulo: Paulus, 2003 (adaptado)).
Do ponto de vista comercial, o avanço das novas tecnologias, indicado no texto, está associado à:
a) exigência de consumidores conscientes de seus direitos.
b) relação direta entre fabricantes e consumidores.
c) individualização das mensagens publicitárias.
d) manutenção das preferências de consumo.
Questão 03. ENEM - 3 APLICAÇÃO 2014
Para o sociólogo Don Slater, as pessoas compram a versão mais cara de um produto não porque tem
maior valor de uso do que a versão mais barata, mas porque significa status e exclusividade; e, claro,
esse status provavelmente será indicado pela etiqueta de um designer ou de uma loja de departamentos. (BITTENCOURT, R. Sedução para o consumo. Revista Filosofia, n. 66, ano VI, dez. 2011).
Os meios de comunicação, utilizados pelas empresas como forma de vender seus produtos, fazem
parte do cotidiano social e têm por um de seus objetivos induzir as pessoas a um(a):
a) vida livre de ideologias.
b) pensamento reflexivo e crítico.
c) consumo desprovido de modismos.
d) atitude consumista massificadora.
e) postura despreocupada com estilos.
Questão 04. Na sua opinião, como as propagandas de marcas e produtos da moda podem afetar as relações sociais de uma criança ou de um adolescente na escola? (5 linhas).


Comentários
Postar um comentário