2º Ano - Ensino Médio - Noturno - Filosofia - Verdade e Validade.
Dogmatismo
Dogmatíkós, em grego, significa” que se funda em princípios” ou “relativo a uma doutrina”.
Dogmatismo é a doutrina que o homem pode atingir a certeza. Filosoficamente é a atitude que consiste em admitir que a razão humana tenha a possibilidade de conhecer a realidade.
Do ponto de vista religioso, chamamos dogma a uma verdade fundamental e indiscutível da doutrina.
Na religião cristã, por exemplo, há o dogma da Santíssima Trindade segundo o qual as três pessoas
(Pai, Filho e Espírito Santo) não são três deuses, mas um. Deus é uno e trino. Não importa se a razão
não consegue entender, já que é um princípio aceito pela fé e o seu fundamento é a revelação divina.
Quando transpomos a ideia de dogma para o campo não -religioso, ela passa a designar as verdades não
questionadas e inquestionáveis. Só que, nesse caso, não se estando mais no domínio da fé religiosa, o
dogmatismo torna -se prejudicial. Já que o homem, de posse de uma verdade, fixa-se nela e abdica-se
de continuar a busca, O mundo muda, os acontecimentos se sucedem e o homem dogmático permanece petrificado nos conhecimentos dados de uma vez por todas.
Disse Nietzsche que “convicções são prisões”. Refratário ao diálogo, o homem dogmático teme o
novo e não raro se torna intransigente e prepotente.
Quando resolve agir, o fanatismo é inevitável, e com ele, a justificação da violência.
Também chamamos dogmáticos os seguidores de “escolas” e tendências quando se recusam a discutir suas verdades, permanecendo refratários às mudanças.
Quando o dogmatismo atinge a política, assume um caráter ideológico que nega o pluralismo e abre
caminho para a imposição da doutrina oficial do Estado e do partido único, com todas as infelizes
decorrências, como censura e repressão.
Em nome do dogma da raça ariana, Hitler cometeu o genocídio dos judeus e ciganos nos campos de
concentração. Além dos significados comuns do conceito de dogmatismo, é preciso ressaltar outro,
denunciado por Kant na Crítica da razão pura. Como se propôs a fazer a avaliação das reais condições
dos limites da razão para conhecer, Kant chama de dogmáticos todos os filósofos anteriores, inclusive
Descartes, por não terem colocado a questão da crítica do conhecer como discussão primeira. Ou seja,
aqueles filósofos “não acordaram do sono dogmático”, no sentido de ainda terem uma confiança não
questionada no poder da razão em conhecer.
Os filósofos gregos tinham uma concepção realista do conhecimento, pois para eles não era problemática a existência do mundo. O mundo é considerado inteligível, isto é, tudo no mundo é compreensível
pelo pensamento. O conhecimento se faz pela formação de conceitos, que são verdadeiros enquanto
adequados à realidade existente.
Na Idade Moderna, a partir de Descartes, o realismo metafísico dos gregos é colocado em questão.
Porque a questão metafísica é antecipada pela questão epistemológica “como descobrir a verdade?”.
Ao desenvolver o método para evitar o erro e chegar à verdade indubitável, Descartes encontra o cogito.
A pergunta: “quem existe?”, Responde: “eu e meus pensamentos”.
E é desse ponto de partida que pensa poder recuperar a existência de Deus e do mundo. Com isso,
o idealismo se configura como o caminho para a procura da verdade que acaba por restringir o conhecimento ao âmbito do sujeito que conhece. A origem das ideias como vimos, a teoria do conhecimento
assume na Idade Moderna uma importância fundamental e primeira. Uma das questões que surge é
quanto à fonte das ideias: qual é a origem do pensamento? Duas correntes principais se desenvolvem
então: o racionalismo e o empirismo. O racionalismo tem seu maior expoente em Descartes, segundo
o qual a razão tem predomínio absoluto como fundamento de todo conhecimento possível. Mas o inglês
Locke, embora de formação cartesiana, critica as ideias inatas e elabora o empirismo, teoria do conhecimento segundo a qual as ideias derivam direta ou indiretamente da experiência sensível. No século
XVIII Kant tentará superar com o criticismo essas duas posições antagônicas.
Texto: ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2003
ATIVIDADES
1 – Dogmatikós, em grego, significa „o que se funda em princípios", ou aquilo que é „relativo a uma doutrina". Dogmatismo é a doutrina segundo a qual é possível atingir a certeza.” (ARANHA, M. L. de A.;
MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2003).
Sobre as diferentes formas de manifestação do dogmatismo, assinale o que for correto.
a. A metafísica tradicional, por acreditar que poderia progredir sem uma crítica da razão, foi considerada, por Immanuel Kant, dogmática.
b. Uma ciência opõe-se ao dogmatismo, quando ela se declara neutra e legitima suas descobertas,
acreditando na infalibilidade de seu método.
c. As proposições do cálculo e da geometria são, para Kant, dogmáticas, pois são princípios reflexivos que unem a sensibilidade e o entendimento no juízo de gosto.
d. A escola jônica, ao procurar a arché na physis, produz uma nova forma de pensamento dogmático, pois todos os seus pensadores concordam que o universo tem a mesma origem.
2 – [UNESP] Dogmatismo vem da palavra grega dogma, que significa: uma opinião estabelecida por
decreto e ensinada como uma doutrina, sem contestação. O dogmatismo é uma atitude autoritária
e submissa. Autoritária porque não admite dúvida, contestação e crítica. Submissa porque se curva
a opiniões estabelecidas. A ciência distingue-se do senso comum porque este é uma opinião baseada em hábitos, preconceitos, tradições cristalizadas, enquanto a ciência baseia-se em pesquisas,
investigações metódicas e sistemáticas e na exigência de que as teorias sejam internamente coerentes e digam a verdade sobre a realidade. (Marilena Chauí. Convite à Filosofia, 1994. Adaptado.)
a. Cite duas implicações políticas do dogmatismo e dê exemplos relacionados a atualidade.
b. Do ponto de vista da objetividade, explique por que o conhecimento científico é superior ao senso comum.
Aprofundamento Contextualizado
• VERGEZ; André, HUISMAN,Denis. História dos Filósofos Ilustrada pelos textos, Livraria Freitas Bastos S.A, 7ª Edição, 1988.
• ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena, Pires. Filosofando – Introdução à Filosofia. Editora Moderna, 3ª Edição, 2003,.
• BUZZI, Arcângelo R. Filosofia para Principiantes – A existência Humana no Mundo. Editora Vozes,
11ª Edição.
CINE REFLEXÃO:
OS OUTROS, The Others. Dirigido por: Alejandro Amenábar. Fantasia, Drama, Terror, Imagem Filmes, 2001
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