3º Ano - Ensino Médio - Noturno - Filosofia - Verdade e Validade.

OS SOFISTAS 

O século de Péricles (V a.C.) constitui o período áureo da cultura grega, quando a democrática Atenas desenvolve intensa vida cultural e artística. Os pensadores do período clássico, embora ainda discutam questões referentes à natureza, desenvolvem o enfoque antropológico, abrangendo a moral e a política. 
Os sofistas vivem nessa época, e alguns deles são interlocutores de Sócrates. Os mais famosos sofistas foram: Protágoras, de Abdera (485-411 a.C.); Górgias, de Leôncio, na Sicília (485 -380 a.C.); Hípias, de Elis; e ainda Trasímaco, Pródico, Hipódamos, entre outros. 
Tal como ocorreu com os pré-socráticos, dos sofistas só nos restam fragmentos de suas obras, além das referências - muitas vezes tendenciosas - feitas por filósofos posteriores. 
A palavra sofista, etimologicamente, vem de sophos, que significa “sábio”, ou melhor, “professor de sabedoria”. 
Posteriormente adquiriu o sentido pejorativo de “homem que emprega sofismas”, ou seja, alguém que usa de raciocínio capcioso, de má -fé, com intenção de enganar. Sóphisrna significa “sutileza de sofista”.
Os sofistas sempre foram mal interpretados devido às críticas que sobre eles fizeram Sócrates e Platão. A imagem de certa forma caricatural da sofística tem sido reelaborada no sentido de procurar resgatar a verdadeira importância do seu pensamento. 
Desde que os sofistas foram reabilitados por Hegel no século XIX, o período por eles iniciado passou a ser denominado Aujklãrung grega (imitando a expressão alemã que designa o iluminismo europeu do século XVIII). 
São muitos os motivos que levaram à visão deturpada dos sofistas que a tradição nos oferece. Em primeiro lugar, há enorme diversidade teórica entre os pensadores reunidos sob a designação de sofista. Talvez o que possa identificá -los é o fato de serem considerados sábios e pedagogos. Vindos de todas as partes do mundo grego, desenvolvem um ensino itinerante pelos locais em que passam, mas não se fixam em lugar algum. 
Deve -se a isso o gosto pela crítica, o exercício do pensar resultante da circulação de ideias diferentes. Segundo Jaeger, historiador da filosofia, os sofistas exercem influência muito forte, vinculando-se à tradição educativa dos poetas Homero e Hesíodo. 
Os sofistas deram importante contribuição para a sistematização do ensino. Formaram u m currículo de estudos: gramática (da qual foram os iniciadores), retórica e dialética; por influência dos pitagóricos, desenvolveram a aritmética, a geometria, a astronomia e a música. Essa divisão será retomada no ensino medieval, constituindo o trivia (referente aos três primeiros) e o quadrivium (referente aos quatro últimos). 
Para escândalo de seus contemporâneos, costumavam cobrar pelas aulas e por esse motivo Sócrates os acusava de prostituição. Cabe aqui um reparo: na Grécia Antiga, apenas os nobres se ocupavam com o trabalho intelectual, pois gozavam do ócio, ou seja, da disponibilidade de tempo decorrente do fato de que o trabalho manual, de subsistência, era ocupação de escravos. Ora, os sofistas, geralmente homens saídos da classe média, faziam das aulas seu ofício, já que não eram suficientemente ricos para filosofarem descompromissadamente. Se alguns sofistas de menor valor podiam ser chamados de mercenários do saber, isso na verdade era acidental. (Será que essas observações podem nos servir ainda hoje?) 
A exigência que os sofistas vêm satisfazer é de ordem essencialmente prática, voltada para a vida: iniciam os jovens na arte da retórica, instrumento indispensável na assembleia democrática, e os deslumbram com o brilhantismo da participação no debate público. Se foram acusados pelos seus detratores de pronunciarem discursos vazios, essa fama se deve à excessiva atenção dada por alguns deles ao aspecto formal da exposição e da defesa das ideias, pois se achavam preocupados com a persuasão, instrumento por excelência do cidadão na cidade democrática. 
Os melhores deles, no entanto, buscaram aperfeiçoar os instrumentos da razão, ou seja, a coerência e o rigor da argumentação, porque não basta dizer o que se considera verdadeiro, é preciso demonstrá- -lo pelo raciocínio. Pode-se dizer que aí se encontra o embrião da lógica, mais tarde desenvolvida por Aristóteles. 
Quando Protágoras, um dos mais importantes sofistas, diz que “o homem é a medida de todas as coisas”, esse fragmento deve ser entendido não como expressão do relativismo do conhecimento, mas enquanto exaltação da capacidade de construir a verdade: o logos não mais é divino, mas decorre do exercício técnico da razão humana. 
Texto: ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2003.

ATIVIDADES

01 – Na Grécia antiga, principalmente na cidade de Atenas no século V a.C., desenvolveu-se uma corrente de pensadores conhecidos como Sofistas. Tidos como “sábios”, eram pagos para ensinar os jovens principalmente a arte da argumentação. Abaixo, CONSIDERE as afirmações sobre a importância que esta (arte) tinha em seu pensamento. 

I. Os sofistas não acreditavam na verdade absoluta, para eles o importante era conseguir convencer os outros de suas ideias. 
II. Os sofistas acreditavam que uma boa argumentação era a única maneira de se chegar ao conhecimento da verdade absoluta. 
III. Os sofistas acreditavam que através dos argumentos era possível se chegar à melhor solução em cada caso. 

a. Apenas a III é verdadeira. 
b. Apenas a I é verdadeira. 
c. Apenas a I é falsa. 
d. Apenas a II é verdadeira. 
e. Apenas a II é falsa. 

02 – “O homem é a medida de todas as coisas.” Vimos em sala que um dos principais Sofistas que viveu em Atenas foi Protágoras de Abdera, a quem se atribui a afirmação acima. Sobre sua CORRETA interpretação, CONSIDERE: 

I. Protágoras é considerado o “pai dos sofistas”, uma vez que seus discípulos seguiam a sua frase citada acima. 
II. Protágoras quis dizer que a verdade só é verdade na medida em que alguém a considera como tal. 
III. Podemos dizer que Protágoras não acredita na verdade absoluta, pois para ele as coisas só são verdadeiras para um indivíduo, que a interpreta como tal, e não de maneira coletiva, por todos. 

a. Todas são verdadeiras. 
b. Apenas a I é falsa. 
c. Apenas a II é falsa. 
d. Apenas a III é falsa. 
e. Apenas a II é verdadeira

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