3º Ano - Ensino Médio - Noturno - Filosofia - A Racionalidade Científica.
ANTROPOCENTRISMO
Enquanto o pensamento medieval é predominantemente teocêntrico (centrado na figura de Deus), o
homem moderno coloca a si próprio no centro dos interesses e decisões. A laicização do saber, da
moral, da política é estimulada pela capacidade de livre exame. Da mesma forma que em ciência se
aprende a ver com os próprios olhos, até na religião os adeptos da Reforma defendem o acesso direto
ao texto bíblico, cada um tendo o direito de interpretá-lo.
Além disso, o homem moderno descobre sua subjetividade. Enquanto o pensamento antigo e medieval
parte da realidade inquestionada do objeto e da capacidade do homem de conhecer, surge na Idade
Moderna a preocupação com a “consciência da consciência”.
O problema central é o problema do sujeito que conhece, não mais do objeto conhecido. Antes se perguntava: “Existe alguma coisa?”, “Isto que existe, o que é?”. Agora o problema não é saber se as coisas
são, se nós podemos eventualmente conhecer qualquer coisa.
Das questões epistemológicas, isto é, relativas ao conhecimento, deriva a ênfase que marcará a filosofia daí por diante. Saber ativo em oposição ao saber contemplativo dos antigos, surge uma nova postura
diante do mundo. O conhecimento não parte apenas de noções e princípios, mas da própria realidade
observada e submetida a experimentações. Da mesma forma, o saber deve retornar ao mundo para
transformá-lo. Dá-se a aliança da ciência com a técnica. Além da participação de Galileu, Kepler e Newton, outros cientistas se mostram fecundos: William Gilbert estuda os fenômenos elétricos e descobre
as propriedades do ímã; Mariotte estuda a elasticidade do gás; Von Guericke inventa a máquina pneumática e a máquina elétrica; Pascal e Torricelli criam o barômetro e revelam a existência da pressão atmosférica; Huygens desenvolve a teoria ondulatória da luz. Na matemática, surge a geometria analítica
com Fermat e Descartes; o cálculo diferencial com Newton e Leibniz; o cálculo das probabilidades com
Pascal; o cálculo infinitesimal com Leibniz e Bernoulli.
A anatomia, desde o século XVI, tiveram a contribuição de Vesálio, que, desafiando a proibição religiosa
de dissecação de cadáveres, consegue desenvolver um estudo mais objetivo da anatomia humana. Servet e Harvey explicam a circulação sanguínea, Hooke descreve a estrutura celular das plantas.
Nunca antes na história da humanidade, o saber fora tão fecundo nem desenvolvera semelhante capacidade de transformação da realidade pela técnica.
“A filosofia encontra-se escrita neste grande livro que continuamente se abre perante nossos olhos
(isto é, o universo), que não se pode compreender antes de entender a língua e conhecer os caracteres com os quais está escrito. Ele está escrito em língua matemática, os caracteres são triângulos, circunferências e outras figuras geométricas, sem cujos meios é impossível entender humanamente as
palavras: sem eles nós vagamos perdidos dentro de um obscuro labirinto.”
Galileu Galilei (1564-1642), italiano que lecionou nas universidades de Pisa e de Pádua, foi responsável
pela superação do aristotelismo e pelo advento da moderna concepção de ciência, escreveu O Diálogo
sobre os dois máximos sistemas do mundo, discurso sobre duas novas ciências. Sua vida foi marcada
pela perseguição política e religiosa, por defender a substituição do modelo ptolomaico do mundo (geocentrismo) pelo modelo copernicano (heliocentrismo).
Condenado pela Inquisição, foi obrigado a abjurar publicamente suas ideias, sendo confinado em prisão
domiciliar a partir de I633.
Além da astronomia, a contribuição de Galileu foi importante também na física. Compreendendo as falhas da física antiga, Galileu empreendeu uma mudança radical no campo da óptica geométrica (lentes,
reflexão e refração da luz), termologia (foi o inventor do termômetro), hidrostática, óptica física (teoria
sobre a natureza da luz) e principalmente no campo da dinâmica, da qual lançou os fundamentos.
Foi no século XVI que o monge Nicolau Copérnico (1473 -1543) publicou a obra onde propunha a teoria
heliocêntrica. Apresentada timidamente como simples hipótese, talvez por temor à Inquisição, a teoria
teve pouca repercussão e foi praticamente ignorada até o início do século XVII, quando ressurgiu como
uma bomba com Galileu e Kepler. O telescópio, invenção talvez dos holandeses, proporcionou a Galileu
descobertas valiosas: para além das estrelas fixas, haveria ainda infindáveis mundos; a superfície da
Lua era rugosa e irregular; o Sol tinha manchas, e Júpiter tinha quatro luas! Mas como isso era possível?
Vimos que para os aristotélicos o universo era finito, a Lua e o Sol eram compostos de uma substância
incorruptível e perfeita, e Júpiter, engastado em uma esfera de cristal, não podia ter luas que a perfurassem... reconhecer a incorruptibilidade do mundo supralunar: desfaz portanto a diferença entre
Terra e Céus. Além disso, à consciência medieval de um “mundo fechado”, é contraposta a concepção
moderna do “universo infinito”.
Vimos que a noção de infinitude era um atributo divino e Giordano Bruno já pagara demasiadamente
caro por essa ousadia. O forte impacto dessas novidades desencadeou inúmeras polêmicas até que,
pressionado pelas autoridades eclesiásticas, Galileu se viu obrigado a abjurar.
As transformações produzidas pelas novas ciências Secularização da consciência Na nova ciência não
há lugar para explicações que recorram à causalidade divina, como ocorria na antiga astronomia, em
que se admitia que o movimento das esferas celestes era impulsionado pelo Primeiro Motor Imóvel, ou
seja, por Deus. A ciência é secularizada, laicizada, o que significa justamente abandonar a dimensão
religiosa que permeia todo saber medieval. Galileu separa razão e fé, buscando a verdade científica
independentemente das verdades reveladas. Descentralização do cosmos O sistema geocêntrico era
um todo centralizado, finito, ordenado. No novo modelo, a Terra é retirada do centro do universo. Com a
descoberta de outros mundos, nem o Sol é o centro. Dá-se, portanto, uma subversão da ordem e, consequentemente, uma ansiedade no homem, que descobre o seu mundo transformado em “poeira cósmica”, a Terra como simples planeta, um grão de areia perdido na imensidade do espaço infinito. Mais:
o sistema solar é apenas um dos muitos sistemas que compõem o Céu. O que passa a ser questionado
não é apenas o lugar do mundo, mas o lugar do homem no mundo. Geometrização do espaço Para os
antigos, sempre houve uma mística do lugar. Havia lugares privilegiados: Hades (Inferno); Olimpo (lugar
dos deuses); o espaço sagrado do templo; o espaço público da ágora (praça pública); o gineceu (lugar da
mulher). Da mesma forma, havia na física aristotélica a teoria do lugar natural e, na astronomia, a divisão
entre mundo sublunar e mundo supralunar, constituídos de diferentes naturezas e hierarquicamente
situados (um inferior e outro superior).
Para a nova astronomia, o espaço é desmistificado, dessacralizado, isto é, deixa de ser sagrado. Segundo Koyré, à descentralização do cosmos segue a geometrização do espaço, o que significa que o espaço heterogêneo dos lugares naturais se torna homogêneo, é despojado das qualidades e passa a ser
quantitativo, mensurável (isto é, pode ser medido). Podemos dizer, portanto, que há “democratização”
do espaço, pois todos - espaços passam a ser equivalentes, iguais,nenhum sendo superior ao outro.
Não havendo mais diferença entre qualidade dos espaços celestes e a dos terrestres, é possível admitir que as leis da física são também são da mesma natureza que as leis da astronomia. Mecanicismo A
ciência moderna compara a natureza e o próprio homem a uma máquina, um conjunto de mecanismos
cujas leis precisam ser descobertas. As explicações são baseadas num esquema mecânico cujo modelo preferido é o relógio.
Ficam excluídas da ciência todas as considerações a respeito do valor, da perfeição, do sentido e do
fim. Isto é, as causas formais, finais, tão caras à filosofia antiga, não servem para explicar: apenas as
causas eficientes utilizadas nas explicações científicas.
Texto: ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2003.
ATIVIDADES
01 - No contexto da Revolução Científica, levada a cabo no século XVII, as pesquisas de Galileu Galilei
foram decisivas. A respeito da vida e obra de Galilei, assinale a única alternativa que não está correta:
a. Galileu desenvolveu o telescópio a partir do aperfeiçoamento de lunetas e lentes.
b. Galileu elaborou teorias consistentes sobre o movimento dos corpos, sendo a Lei da Inércia uma
expressão dessas teorias.
c. Galileu foi submetido ao tribunal da Inquisição para esclarecer suas opiniões a respeito do movimento do planeta Terra em torno do Sol.
d. Galileu colaborou diretamente com Isaac Newton na elaboração do livro “Philosophiae naturalis
principia mathematica (1678).
e. Galileu conseguiu observar, por meio do telescópio, as imperfeições da Lua, como as crateras que
nela existem.
02 - (UFV) Sobre a chamada Revolução Científica, marque a afirmativa INCORRETA:
a. A lei da gravitação universal foi formulada por Newton, a partir da teoria heliocêntrica e da teoria do
movimento dos astros.
b. O método da observação e da experimentação, aliado a razão matemática, contribuiu para o desenvolvimento das ciências modernas.
c. A Revolução Científica foi um movimento de legitimação do poder absoluto monárquico e de aumento do poder eclesiástico.
d. As novas descobertas científicas possibilitaram as grandes navegações e a ascensão da burguesia.
e. As ideias racionalistas de Descartes e a física newtoniana influenciaram o pensamento iluminista
do século XVIII.
Fonte: https://exercicios.mundoeducacao.uol.com.br/exercicios-historia/exercicios-sobre-revolucao-cientifica-seculo-xvii.htm#resposta-2162
CINE REFLEXÃO:
O CÓDIGO DA VINCI. Dirigido por: Ron Howard. Suspense. Sony Pictures, 2006.
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