3º Ano Ensino Médio - Noturno - Política, Participação e Direitos Humanos.

SERÁ QUE POLÍTICA É REALMENTE IMPORTANTE EM NOSSAS VIDAS?

 
No plano de estudos anterior refletimos acerca de alguns conceitos básicos relacionados à política e sistema eleitoral Brasileiro. Essas são ferramentas fundamentais para a uma efetiva participação dos cidadãos nas tomadas de decisões que influenciam na dinâmica social do país. Estudar esses temas se mostra importante devido ao fato de que depois mesmo de tantas lutas para ter garantido o direito à participação política por lei, algumas pessoas ainda se perguntam: Qual seria a importância da minha participação nesse processo?", “A ação de apenas um indivíduo faz alguma diferença?”, ou “Será que a política influencia de fato na minha vida?”. 

Uma boa resposta a essas perguntas foi dada pelo dramaturgo Alemão Bertolt Brecht que em um breve texto sintetiza a importância da política em nossas vidas, vamos conferir: 


Nesse texto o autor deixa evidente que independente de gostar ou não de política ela é importante em nossas vidas. As ideias trazidas pelo autor dialoga com a célebre frase do filósofo grego Platão que mesmo escrita a mais de dois mil anos continua muito atual; “Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam”. Não é difícil perceber em nossa vida prática como esses dois autores estão corretos. A importância da participação, não somente pelo voto, mas também atuando efetivamente em conselhos municipais, associações comunitárias, grêmios estudantis, sindicatos, coletivos e até mesmo nas redes sociais influenciam diretamente nas ações de nossos representantes nas prefeituras, governos estaduais e federal, assim como nas câmaras municipais, assembleias legislativas e no Congresso Nacional (câmara dos deputados e senado) . 

Estudos ligados à Ciência Política evidenciam que comunidades que possuem uma sociedade civil organizada, e que demandam por parte de seus governantes, são amplamente melhor atendidas em serviços públicos como pavimentação de ruas, coleta seletiva de lixo, saneamento básico, construção de áreas de lazer, atendimento médico e demais serviços que são responsabilidade do poder público e que são negligenciados em comunidades que não possuem essa mesma organização.

Na própria escola podemos evidenciar a importância da efetiva participação de pais, estudantes, professores e demais membros da comunidade escolar na tomada de decisões e na demanda por ensino de qualidade. As pesquisas no campo da educação evidenciam que escolas que dispõem de maior apoio e participação da comunidade em suas ações e resolução de problemas, conseguem oferecer um ensino de melhor qualidade a seus estudantes, já em escolas onde não há participação da população e as decisões recaem apenas sobre poucas pessoas, há maiores dificuldades para se oferecer ensino de qualidade para seus estudantes. 

A omissão nas tomadas de decisões e demonização da política, representadas em saídas fáceis com afirmativa como:“Eu odeio política”, como foi evidenciada no texto de Bertolt Brecht, por vezes pode até parecer uma postura de protesto contra episódios constantes de corrupção que assistimos a todos os dias em nossos telejornais. Contudo, tais posturas que buscam entender política como sinônimo de corrupção, têm como efeito apenas distanciar as pessoas que realmente importam com o coletivo da vida pública e abrir espaços para quem pretende usar as instituições públicas para obter benefícios privados, ou seja, a ausência da participação política da população favorece a corrupção da política. Para terminar essa nossa conversa sobre a importância da política em nossas vidas, vamos lhe presentear com o belo, poético e esclarecedor texto de Rubem Alves que fala da diferença entre o político por vocação e o político por profissão. Boa Leitura! 

SOBRE POLÍTICA E JARDINAGEM — Rubem Alves 

De todas as vocações, a política é a mais nobre. Vocação, do latim vocare, quer dizer chamado. Vocação é um chamado interior de amor: chamado de amor por um ‘fazer’. No lugar desse ‘fazer’ o vocacionado quer ‘fazer amor’ com o mundo. Psicologia de amante: faria, mesmo que não ganhasse nada. Política’ vem de polis, cidade. A cidade era, para os gregos, um espaço seguro, ordenado e manso, onde os homens podiam se dedicar à busca da felicidade. O político seria aquele que cuidaria desse espaço. A vocação política, assim, estaria a serviço da felicidade dos moradores da cidade. 

Talvez por terem sido nômades no deserto, os hebreus não sonhavam com cidades: sonhavam com jardins. Quem mora no deserto sonha com oasis. Deus não criou uma cidade. Ele criou um jardim. Se perguntássemos a um profeta hebreu ‘o que é política?’, ele nos responderia, ‘a arte da jardinagem aplicada às coisas públicas’. O político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar para si mesmo. De que vale um pequeno jardim se à sua volta está o deserto? É preciso que o deserto inteiro se transforme em jardim. 

Amo a minha vocação, que é escrever. Literatura é uma vocação bela e fraca. O escritor tem amor mas não tem poder. Mas o político tem. Um político por vocação é um poeta forte: ele tem o poder de transformar poemas sobre jardins em jardins de verdade. A vocação política é transformar sonhos em realidade. É uma vocação tão feliz que Platão sugeriu que os políticos não precisam possuir nada: bastar-lhes-ia o grande jardim para todos. Seria indigno que o jardineiro tivesse um espaço privilegiado, melhor e diferente do espaço ocupado por todos. Conheci e conheço muitos políticos por vocação. Sua vida foi e continua a ser um motivo de esperança. 

Vocação é diferente de profissão. Na vocação a pessoa encontra a felicidade na própria ação. Na profissão o prazer se encontra não na ação. O prazer está no ganho que dela se deriva. O homem movido pela vocação é um amante. Faz amor com a amada pela alegria de fazer amor. O profissional não ama a mulher. Ele ama o dinheiro que recebe dela. É um gigolô. Todas as vocações podem ser transformadas em profissões. O jardineiro por vocação ama o jardim de todos. O jardineiro por profissão usa o jardim de todos para construir seu jardim privado, ainda que, para que isso aconteça, ao seu redor aumente o deserto e o sofrimento. Assim é a política. São muitos os políticos profissionais. Posso, então, enunciar minha segunda tese: de todas as profissões, a profissão política é a mais vil. O que explica o desencanto total do povo, em relação à política. Guimarães Rosa, perguntado por Günter Lorenz se ele se considerava político, respondeu: ‘Eu jamais poderia ser político com toda essa charlatanice da realidade… Ao contrário dos ‘legítimos’ políticos, acredito no homem e lhe desejo um futuro. O político pensa apenas em minutos. Sou escritor e penso em eternidades. Eu penso na ressurreição do homem.’ Quem pensa em minutos não tem paciência para plantar árvores. Uma árvore leva muitos anos para crescer. É mais lucrativo cortá-las. 

Nosso futuro depende dessa luta entre políticos por vocação e políticos por profissão. O triste é que muitos que sentem o chamado da política não têm coragem de atendê-lo, por medo da vergonha de serem confundidos com gigolôs e de terem de conviver com gigolôs. Escrevo para vocês, jovens, para seduzi-los à vocação política. Talvez haja jardineiros adormecidos dentro de vocês. A escuta da vocação é difícil, porque ela é perturbada pela gritaria das escolhas esperadas, normais, medicina, engenharia, computação, direito, ciência. Todas elas, legítimas, se forem vocação. Mas todas elas afunilantes: vão colocá-los num pequeno canto do jardim, muito distante do lugar onde o destino do jardim é decidido. Não seria muito mais fascinante participar dos destinos do jardim? 

Acabamos de celebrar os 500 anos do descobrimento do Brasil. Os descobridores, ao chegar, não encontraram um jardim. Encontraram uma selva. Selva não é jardim. Selvas são cruéis e insensíveis, indiferentes ao sofrimento e à morte. Uma selva é uma parte da natureza ainda não tocada pela mão do homem. Aquela selva poderia ter sido transformada num jardim. Não foi. Os que sobre ela agiram não eram jardineiros. Eram lenhadores e madeireiros. E foi assim que a selva, que poderia ter se tornado jardim para a felicidade de todos, foi sendo transformada em desertos salpicados de luxuriantes jardins privados onde uns poucos encontram vida e prazer. Há descobrimentos de origens. Mais belos são os descobrimentos de destinos. Talvez, então, se os políticos por vocação se apossarem do jardim, poderemos começar a traçar um novo destino. Então, ao invés de desertos e jardins privados, teremos um grande jardim para todos, obra de homens que tiveram o amor e a paciência de plantar árvores à cuja sombra nunca se assentariam. 

Fonte: Folha de S. Paulo, Tendências e Debates, 19 maio 2000

ATIVIDADES

Após analisar os conteúdos presentes em nosso plano de estudos e ler o texto “Sobre Política e Jardinagem” de Rubem Alves responda as questões abaixo: 

1 — O que o autor quis dizer nos seguinte trecho: “Um político por vocação é um poeta forte: ele tem o poder de transformar poemas sobre jardins em jardins de verdade”. 
a) ( ) Cabe ao político por vocação transformar projetos urbanísticos em jardins de fato. Possibilidade esta, não disponível aos poetas que só o imaginam. 
b) ( ) Cabe ao político por vocação fazer tudo que tem vontade, realizando todos os seus sonhos e desejos. 
c) ( ) O político por vocação tem em suas mãos a possibilidade de idealizar e colocar em prática projetos que melhore a vida de todos. 
d) ( ) Os poetas e os políticos por vocação estão muito próximos, à medida que sonham os mesmos sonhos. 
e) ( ) Assim como os poetas, os políticos por vocação só sonham, mas não realizam suas obras. 

2 — Segundo o texto qual a diferença entre o político por vocação e político por profissão? 
a) ( ) O primeiro utiliza da sua função apenas para obter benefícios próprios e o segundo ama e enxerga em sua função a possibilidade de constituir um mundo melhor. 
b) ( ) O primeiro tem a possibilidade de mudar a realidade social e o segundo não. 
c) ( ) O primeiro vê em sua função a possibilidade de ser útil e ajudar a sociedade como um todo e por isso o faz amar a sua função, já o segundo se envolve nesta profissão apenas por ver nela a possibilidade de se dar bem. 
d) ( ) O primeiro se comporta como um gigolô ao passo que só se envolve com a política para ganhar dinheiro já o segundo de fato ama a vocação política. 
e) ( ) Não há diferença ambos são corruptos como todo político, sem nenhuma exceção. 

3 — Segundo o texto, a real função do político por vocação é? 
a) ( ) Cuidar do espaço público. 
b) ( ) Cuidar de questões burocráticas. 
c) ( ) Buscar objetivos que são só do seu interesse. 
d) ( ) Roubar e corromper o sistema. 
e) ( ) Quem tem alguma afinidade com funções técnicas como jardinagem.

4 — Leia atentamente o fragmento do texto: “O político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar para si mesmo. De que vale um pequeno jardim se a sua volta está o deserto? É preciso que o deserto inteiro se transforme em jardim.” São interpretações corretas deste trecho do texto, exceto: 
a) ( ) É função do político por vocação lutar contra a desigualdade social. 
b) ( ) O político por vocação busca conquistas sociais que atenda a população como um todo. 
c) ( ) O político por vocação como os demais políticos busca conquistas apenas para os pequenos grupos sociais que eles representam. 
d) ( ) O político por vocação é uma pessoa que tem consciência de que um mundo não violento, sem miséria e doenças só pode ser atingido com uma política que busque atender a todos, sem fazer distinção de classe, raça ou crença. 
e) ( ) O político por vocação tem como um de seus principais propósitos a busca pela justiça. 

5 — Ainda segundo o autor do texto, por que muitos políticos por vocação deixam de atuar efetivamente na política. 
a) ( ) Por ver na política, como ela é feita hoje, a possibilidade de atingir seus ideais. 
b) ( ) Por não conhecerem os devidos trâmites para ingressar em uma carreira política. 
c) ( ) Por não ter as devidas qualificações profissionais. 
d) ( ) Por não querer ser confundido com pessoas que assumem cargos políticos apenas para obter benefícios materiais e favores pessoais. 
e) ( ) Por que esses cargos não vão lhe proporcionar riquezas e qualidade de vida. 

6 — Marque a questão que aponte a correspondência correta entre os órgãos dos três poderes da república e a sua função: 
a) ( ) Poder moderador — É exercido pelos juízes e possui a capacidade e a prerrogativa de julgar, de acordo com as regras constitucionais e leis criadas pelo poder legislativo em determinado país. 
b) ( ) Poder judiciário — É exercido pelo presidente, governadores e prefeitos. Possui a atribuição de governar o povo e administrar os interesses públicos, cumprindo fielmente as ordenações legais. 
c) ( ) Poder legislativo — Compete a este o poder da elaboração de leis que estruturam o ordenamento jurídico do Estado e, ainda, modificá-las ou revogá-las. 
d) ( ) Poder Executivo — É exercido pelos juízes e possui a capacidade e a prerrogativa de julgar, de acordo com as regras constitucionais e leis criadas pelo poder legislativo em determinado país. 
e) ( ) Poder Parlamentar — Exercido pelo monarca que não necessita de leis para governar, pois o próprio é a lei. 

7 — Quais são problemas enfrentados por um país que implementa um modelo de democracia indireta (representativa)? 
a) ( ) Corrupção, já que o fato de todos poderem participar da política diretamente dificulta o controle dos gastos públicos. 
b) ( ) Representatividade, pois os candidatos eleitos para nos representar, podem ter atuação não condizente com a que prometeram antes de ser eleito. 
c) ( ) Corrupção, pois já que todos participam efetivamente do processo seria muito difícil juntar todas as pessoas em um local e computar seu voto. 
d) ( ) Representatividade, já que todos participariam do processo diretamente no consenso para se tomar uma decisão seria bem mais difícil. 
e) ( ) N.D.A.

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