3º Ano Ensino Médio - Noturno - Política, participação e Movimentos Sociais.

Ideologia, Política e Movimentos  Sociais 
Carlos Andrés Otto 

Como o próprio nome faz referência os movimentos sociais consistem em grupos de pessoas que se organizam de forma independente frente aos governos, e por vezes em oposição  a eles,  reivindicando mudanças na sociedade. Isso nos leva às seguintes questões; Por que em uma sociedade democrática, onde os representantes políticos  são eleitos pelo povo, determinados grupos sociais sentem a necessidade de se organizar para reivindicar seus direitos?   Quais são os limites da  atuação desses grupos? Será que qualquer pauta pode ser reivindicada?  Em suas militâncias esses grupos podem exigir mudanças sociais que firam as leis do país e  retire direitos de outras pessoas?   
Para compreender essas e outras questões é necessário entendermos o contexto em que estão inseridas as reivindicações trazidas pelos movimentos sociais. Exercício ainda mais urgente dentro do  atual contexto Brasileiro marcado por uma grande polarização política, onde por vezes, determinados  grupos — sejam eles progressistas ou conservadores, esquerda ou direita — se radicalizam construindo um cenário onde a maior vítima é a própria democracia e o Estado  Democrático de Direito.       
Por isso antes de tratarmos propriamente das pautas defendidas por alguns grupos ligados aos Movimentos Sociais contemporâneos entendemos como oportuna uma breve  retomada das  discussões sobre o conceito de Ideologia. A compreensão desse conceito nos ajudará a entender como, ao longo da história, várias injustiças foram naturalizadas  pela sociedade e pelo próprio Estado (governo) e como a organização de pessoas vítimas dessas injustiças se mostrou e se mostra  importante para modificar essa situação.  

Mas afinal de contas, o que é ideologia?  
Vocês devem estar ouvindo e lendo na televisão e nas redes sociais as pessoas falando em fascismo, nazismo, comunismo, democracia, esquerda, direita, mas o que são essas coisas?  A resposta é ideologias! 
Ideologia é um conceito que possui vários sentidos. O termo foi criado na modernidade com o filósofo francês Destutt de Tracy, com o propósito de abordar a formação e a construção das ideias. E que ideias seriam essas? Você já se perguntou de onde vêm as ideias sobre o mundo em que vivemos? 
Nós já sabemos que a família, a escola, a religião e os meios de comunicação moldam muito dos nossos comportamentos e do que pensamos, mas isso é feito com alguma orientação? Será que existe algum interesse dentro dessas instituições em nos ensinar determinados comportamentos e deixar outros de lado? 
A ideologia é justamente esta visão do mundo, este conjunto de ideias que nos são transmitidas ou que nós mesmas/os desenvolvemos e que determinam uma forma de perceber o mundo. Como assim? Calma, o objetivo desta semana é exatamente discutir sobre isso. Existem muitas formas de se entender o conceito de ideologia, uma dessas formas é entendê-lo como um conjunto de ideias, noções ou mesmo opiniões que uma sociedade ou grupo tem sobre um assunto. A ideologia seria como uma “visão de mundo”, um conjunto de representações, de valores e também de normas de conduta que indicam como as pessoas de certa sociedade devem agir e pensar. 
Como disse a vocês o conceito de ideologia nasce com o pensador francês Antoine Louis Claude Destutt de Tracy (1754-1836) que buscou compreender quais os elementos que operam e interferem na formação das ideias. Assim, o termo ideologia pode ser entendido, segundo este autor, como a “ciência das ideias”. Depois disso o termo ganhou novos sentidos. Auguste Comte, filósofo francês, vai utilizar o sentido que Antoine Louis Claude Destutt de Tracy, aquele de que a ideologia é um conjunto de ideias, e vai acrescentar que essas ideias são de determinada época. Ou seja, quando falamos de ideologia, falamos de ideias de um período específico. 
Karl Marx, pensador alemão, vai definir a ideologia como um sistema de pensamentos, reflexo de uma determinada época, mas, sobretudo como um reflexo dos grupos sociais existentes e de seus interesses. Então a ideologia para Marx seria usada como dominação de classe, ou seja, certos comportamentos seriam repassados para a população para facilitar que as elites econômicas  a dominassem. 

Conflitos ideológicos e a manutenção da ideologia dominante 
Para além de parecer que essa discussão sobre ideologia está distante de nós, ela está ao nosso redor o tempo todo. Sempre que nos relacionamos, exprimimos opiniões e julgamentos, estamos colocando em ação uma série de pressupostos ideológicos, ou seja, estamos defendendo uma ideologia. 
Quando vivemos e interagimos em sociedade, estamos seguindo uma lógica e um sistema de pensamento que nos foi ensinado. A ideologia não é um evento individual ou mesmo um ato consciente, ela nos cerca através de um esquema maior que podemos ver quando compramos ideias, valores, conceitos que já existiam anteriormente e dos quais somos apenas representantes. 

Movimentos sociais como elemento para repensar as ideologias dominantes 
Contudo, muitas vezes não estamos de acordo com a ideologia dominante vigente que se impõe sobre nós, ou seja, a ideologia que as elites (cultural, econômica, intelectual entre outras)  determinam, e aí podemos pensar em movimentos de ruptura com esse sistema de ideias dominantes. Se entendermos que o modo de pensar e compreender a realidade são fruto de um contexto sócio histórico, entendemos que esse modo de pensar não é estático. Portanto, a ideologia dominante está sujeita à transformação. E de que forma podemos então lutar contra essa ideologia dominante que nos controla para servi-la? 
Em outros momentos, aqueles que não estão na posição dominantes se organizam em sindicatos, partidos políticos ou em movimentos sociais, como o movimento feminista, anticorrupção, negro, estudantil, etc. E se contrapõem à ideologia dominante. Greves, contestações, manifestações e passeatas são caminhos de mobilização empregados por estes grupos e movimentos sociais que buscam abrir espaços na teia da ideologia dominante. Estes movimentos reivindicam direitos, mas também trazem seus modos de pensar e entender a vida em sociedade e buscam pela possibilidade de que outros modos de pensar e viver o cotidiano sejam possíveis, para além daqueles já instituídos. 
Estas disputas não se dão de forma simples e muitas vezes se expressam em conflitos sociais, pois os questionamentos realizados pelos Movimentos sociais trazem interrogações a respeito da organização da sociedade. Porém, os grupos que têm seus privilégios evidenciados pelas pautas trazidas pelos movimentos sociais estão preparados para reagir aos conflitos e, por vezes, detêm do seu lado os meios de comunicação para disseminar suas ideias e o aparato estatal para controlar as ações contrárias a elas e, portanto pode reforçar e impor sua ideologia sempre que desejem. É neste sentido que não raras vezes as manifestações e tentativas de transformação social e discussão da ideologia dominante é taxada de “baderna”, “confusão” que devem ser controladas ou impedidas. Ao longo da história podemos perceber a tentativa de criminalizar os movimentos sociais que denunciavam privilégios e reivindicavam uma sociedade mais justa e democrática. A busca pela igualdade racial nos Estados Unidos na década de 60, manifestações por liberdade e democracia na China na década de 80 e a luta por direitos trabalhistas na década de 20 no Brasil, são exemplos de  movimentos  que exigiam direitos básicos para grupos sociais que eram injustiçados e foram duramente reprimidos  na época pelo governo e pelas elites que os taxavam como desordeiros. Nos dias atuais não são raras as vezes que governos tentam classificar os grupos que reivindicam mudanças sociais como terroristas. A reação do governo Donald Trump frente aos protestos de julho de 2020 que denunciavam a violência policial contra pessoas negras nos Estados Unidos é um bom exemplo dessas estratégias por parte de governos e elites sociais/econômicas de criminalização dos movimentos sociais buscando confundi-los com a prática de terrorismo.    

Alguns conceitos importantes  
Agora que vocês já compreenderam sobre o conceito de ideologia e a importância dos movimentos sociais para lutar contra ideologias que buscam naturalizar as desigualdades presentes na sociedade, que tal falarmos sobre as características de algumas das ideologias que comentamos no começo e que estão aparecendo constantemente na mídia atualmente? Assim vocês poderão entender melhor sobre o que estamos falando.

O Fascismo, de forma geral, é um regime autoritário com concentração total do poder nas mãos de um líder do governo, podendo sua orientação política ser de esquerda ou de direita. Essa liderança, uma figura quase que paterna ou materna, deveria ser cultuada/o e poderia tomar qualquer decisão sem consultar previamente os representantes da sociedade, em outras palavras, ela/e pode tomar decisões mesmo que as pessoas discordem dela. Além disso, o fascismo defende uma exaltação da coletividade nacional em detrimento das culturas de outros países. 
O Nazismo é um regime fascista que tem algumas diferenças do que surgiu na Itália, e teve além da militarização da sociedade alemã, a exaltação do líder e o controle através da intensiva máquina de propaganda, que utilizava os meios de comunicação para disseminar as ideias nazistas, sendo a principal delas, o antissemitismo, ódio aos judeus, que é a visão de uma superioridade do homem branco alemão, a raça ariana. 
O Comunismo é uma ideologia político econômica que pretende promover uma sociedade mais igualitária, sem classes sociais baseadas na propriedade comum dos meios de produção. 
O Capitalismo  é um sistema econômico baseado na propriedade privada e nos meios de produção com fins lucrativos. 
Cabe lembrar que esses e outros conceitos ligados à ideologia  mudam e mudaram no tempo e espaço, assim se pegarmos outras palavras que ouvimos e vemos muito, como esquerda e direita, podemos visualizar melhor essas mudanças. O conceito de esquerda e direita surge na Revolução Francesa (Séc. XVIII), quando a assembleia de representantes se reuniu, os representantes das elites aristocráticas se sentaram à direita e os burgueses, ou comuns, à esquerda. É claro que as pessoas que se sentavam à direita possuíam uma visão mais conservadora, pois faziam parte do grupo que obtinha privilégios e assim queriam conservar a sociedade como estava. Já as pessoas que se sentavam à esquerda eram os grupos dos que exigiam mudanças no sentido de eliminar privilégios dos grupos dominantes, portanto  entendidos como progressistas.  
Ao observarmos a utilização dos termos esquerda e direita nos dias atuais podemos perceber que esses conceitos não são aplicados com essa conotação. Na medida em que não faria sentido algum, no contexto da revolução francesa, uma pessoa que não fosse membro da elite econômica se considerar de direita e nem membros da classe média alta e até donos de grandes veículos de comunicação ser nomeados como de esquerda. Por isso, se torna importante entender a origem desses termos e os sentidos e propósitos que as pessoas os empregam para que você não seja facilmente manipulado. Para que isso não ocorra uma dica é “fugir da bolha”, não se restrinja apenas a grupos específicos, como as redes sociais, para se informar frente a determinado tema, busque diferentes fontes de informação e se permita  escutar todos os pontos de vista para formar suas opiniões sobre os mais variados  temas. Fazendo isso você estará mais próximo de uma realidade objetiva dos fatos, fugirá da polarização ideológica e correrá menos risco de ser injusto em seus posicionamentos. Lembre-se ninguém pode ser considerado dono da Verdade. 

ATIVIDADES

1 — (Unisc 2016) Anarquismo é uma corrente de pensamento com variadas expressões no pensamento filosófico e político. Os anarquistas têm em comum a defesa da liberdade pessoal, da participação direta dos cidadãos em todos os assuntos políticos e a recusa às diferentes formas de autoridade e de governo. São contrários à representação política e à delegação de poder. Entendem que a ordem social não requer a existência de governo. Há um segundo sentido do termo, comum na linguagem popular, em que anarquista significa ser apoiador da desordem e do caos. 
Dicionário de Filosofia Política, Editora Unisinos, 2010. 

Considerando o primeiro sentido, próprio do pensamento filosófico e político, assinale a alternativa condizente com a visão anarquista. 
a) Voto universal e eleições diretas para todos os cargos governamentais. 
b) Cooperativas e sindicatos de trabalhadores. 
c) Organização terrorista anticapitalista, militarizada e hierarquizada, tipo Al-Qaeda. 
d) Parlamentos livres (de deputados, senadores ou vereadores). e) Democracia representativa. 

2 — (Uem-pas 2015) Valéria Pilão informa que, por ocasião da Copa do Mundo de 1970, durante a ditadura militar estabelecida no país, Miguel Gustavo compôs a canção “Pra frente Brasil”, que incitava: 

“Noventa milhões em ação 
Pra frente Brasil do meu coração 
Todos juntos vamos 
Pra frente Brasil Salve a seleção (...)” 
PILÃO, Valéria. Movimento estudantil. In: LORENSETTI, Everaldo et al. Sociologia: ensino médio. Curitiba: SEED-PR, 2006, p. 275. 

Levando em consideração o conteúdo do trecho citado e o contexto em que a música foi elaborada, é correto afirmar que: 
a) o compositor, com suas palavras, dá a entender um descontentamento com o regime político. 
b) a canção dirige-se à população brasileira, estimulando sentimentos de grandiosidade nacionalista. 
c) a letra cria uma identificação entre a nação e a seleção, como se a vitória desta significasse avanço daquela. 
d) o compositor busca estimular os sentimentos críticos dos jogadores e da comissão técnica, em relação ao momento político vivenciado pelo país. e) a letra, apesar de tratar de futebol, tema pelo qual o brasileiro é apaixonado, fala do assunto de modo imparcial, sereno. 

3 — (Enem PPL 2015) Colonizar, afirmava, em 1912, um eminente jurista, “é relacionar-se com os países novos para tirar benefícios dos recursos de qualquer natureza desses países, aproveitá-los no interesse nacional, e ao mesmo tempo levar às populações primitivas as vantagens da cultura intelectual, social, científica, moral, artística, literária, comercial e industrial, apanágio das raças superiores. A colonização é, pois, um estabelecimento fundado em país novo por uma raça de civilização avançada, para realizar o duplo fim que acabamos de indicar”. 
MÉRIGNHAC. Précis de législation et d’économie coloniales. Apud LINHARES, M. Y. 

A definição de colonização apresentada no texto tinha a função ideológica de: 
a) dissimular a prática da exploração mediante a ideia de civilização. 
b) compensar o saque das riquezas mediante a educação formal dos colonos. 
c) formar uma identidade colonial mediante a recuperação de sua ancestralidade. 
d) reparar o atraso da Colônia mediante a incorporação dos hábitos da Metrópole. 
e) promover a elevação cultural da Colônia mediante a incorporação de tradições metropolitanas. 

4 — (Uel 2006) “[...] uma grande marca enaltece — acrescenta um maior sentido de propósito à experiência, seja o desafio de dar o melhor de si nos esportes e nos exercícios físicos ou a afirmação de que a xícara de café que você bebe realmente importa [...] Segundo o velho paradigma, tudo o que o marketing vendia era um produto. De acordo com o novo modelo, contudo, o produto sempre é secundário ao verdadeiro produto, a marca, e a venda de uma marca adquire um componente adicional que só pode ser descrito como espiritual”. O efeito desse processo pode ser observado na fala de um empresário da Internet comentando sua decisão de tatuar o logo da Nike em seu umbigo: “Acordo toda manhã, pulo para o chuveiro, olho para o símbolo e ele me sacode para o dia. É para me lembrar a cada dia como tenho de agir, isto é, ‘just do it’.” 
KLEIN, Naomi. Sem logo: a tirania das marcas em um planeta vendido. Rio de Janeiro: Record, 2002, p. 45-76. 

Com base no texto e nos conhecimentos sobre ideologia, é correto afirmar: 
a) A atual tendência do capitalismo globalizado é produzir marcas que estimulam a conscientização em detrimento dos processos de alienação. 
b) O capitalismo globalizado, ao tornar o ser humano desideologizado, aproximou-se dos ideais marxistas quanto ao ideal humano. 
c) Graças às marcas e à influência da mídia, em sua atuação educativa, as pessoas tornaram-se menos sujeitas ao consumo. 
d) O trabalho ideológico em torno das marcas solucionou as crises vividas desde a década de 1970 pelo capital oligopólico. 
e) Por meio da ideologia associada à mundialização do capital, ampliou-se o fetichismo das mercadorias, o qual se reflete na resposta social às marcas. 

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